quinta-feira, 07/11/2024
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Por que o sexo anal ainda choca?

Cantora Sandy fala de sexo anal em revista e cai na boca do povo

Por muitos anos a cantora Sandy cultivou a imagem de menina virgem e pudica. Recentemente, já casada, surpreendeu ao assumir o rótulo de “devassa” na campanha publicitária de uma marca de cerveja. Era de se esperar, portanto, a polêmica em torno de sua declaração para a revista Playboy de agosto: “é possível ter prazer anal”.

A frase caiu na boca do povo não só pelo estilo possivelmente contraditório de Sandy, mas pelo tema, que ainda é delicado no universo feminino. Lucas Lima, marido da cantora, e Xororó, o pai, não gostaram quando a citação foi parar na capa da publicação masculina: “Que pai gosta de ler aquilo?”, disse o astro sertanejo em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

Em tempos que a virgindade não é mais o grande dilema sexual feminino, e que elas assumem buscar o próprio prazer na cama, seria o sexo anal o principal marco de experimentação da mulher moderna? E porque ainda julgamos moralmente – mesmo que de forma velada – uma mulher que assume praticar e gostar de sexo anal?

Para Oswaldo Rodrigues Junior, psicoterapeuta sexual e diretor do Instituto Paulista de Sexualidade, a prática do sexo anal é mais comum do que se imagina. No entanto, o constrangimento em tocar no assunto seria explicado pelo peso moral que a modalidade ainda carrega. “Verbalizar implica poder ser alvo de julgamento por outras pessoas. A mulher que expõe isso demonstra segurança”, diz ele.

De acordo com Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP), o assunto gera fofocas e choca porque tem uma conotação de maior liberdade sexual. “É uma prática historicamente menos aceita porque foge de um padrão voltado para a reprodução. É um sexo pelo prazer, estritamente ligado ao erotismo”, explica. Outras formas de sexo que não incluem a penetração vaginal também já foram mais polêmicas. É o caso do sexo oral. “Hoje está em evidência, mas já foi vilão e bastante questionado. Agora esse espaço é do sexo anal”, completa Abdo.

Uma preferência de poucas
São apenas 15% das mulheres brasileiras que dizem praticar sexo anal com frequencia, segundo um levantamento de Carmita Abdo. “Tem uma proporção que eventualmente aceita, mas não é algo regular e apreciado”, diz. Para Oswaldo, as mulheres raramente demonstram o desejo anal, mas aceitam a experimentação. Uma pesquisa coordenada por ele na década de 1990 apontou que mais de 80% das mulheres já tinham feito sexo anal alguma vez, mas apenas metade faria novamente – e a maioria tinha como objetivo satisfazer o parceiro. Os dados ainda comprovam que Sandy está certa: sim, é possível ter prazer anal, porém nada comum para as mulheres. “Apenas 2% disseram que sentiam orgasmos com a penetração anal”, aponta ele.

 

A prática de sexo anal na cultura ocidental não é algo novo. “Tem sido praticado desde sempre e é objeto de questões morais historicamente”, avalia Junior. A penetração anal já foi inclusive uma alternativa para a preservação da virgindade vaginal. “Era uma intimidade usada entre casais para evitar o rompimento do hímen até a década de sessenta”, aponta Abdo. “Na medida em que a virgindade foi perdendo o valor como uma prova de resguardo da mulher, o sexo anal passou a não ser tão praticado, virou uma alternativa complementar e não substituto”, conclui a pesquisadora.
 

 

 

 

 

 

 

 

JULIA REIS-IG SP

 

 

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Parmenas Alt
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