Um dos mais respeitados estudiosos sobre os efeitos das drogas e do crack no País, o professor orientador do programa de pós-graduação do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad), Dr. Ronaldo Laranjeira, não poupou o Ministério da Saúde de críticas quanto ao atendimento dado aos pacientes de dependência química nas unidades públicas de saúde.
“A política antidroga do Ministério da Saúde é criminosa. É um absurdo o que acontece nos CAPs (Centros de Atenção Psicossocial) em São Paulo, por exemplo. O Estado tem poucos CAPs e a maioria ainda está sucateada. E não existe uma política de tratamento. Cada CAP tem uma política de tratamento da drogas. Se cada umidade tem uma, então isso não é uma política”, afirma Laranjeira.
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) fazem parte de uma rede substitutiva ao hospital psiquiátrico no País e prestam serviços de saúde municipais, são abertos, e oferecem atendimento diário. Segundo o Ministério da Saúde, seu objetivo é oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários.
O professor afirma que percebe no contato com as famílias dos viciados em drogas que o atendimento não está sendo eficaz para os pacientes. “Recebo e-mails de mães desesperadas. Dizem que levam seus filhos dependentes nos CAPs a aí ele não querem mais ir. Quando ela vai reclamar nos os CAPs, os funcionários dizem que não podem fazer nada. Me diga como que um usuário de crack, que está com a vida totalmente degradada, vai marcar uma consulta em um CAP para daqui duas semanas?”, questiona.
Para o professor da Unifesp, não existe uma receita única para o tratamento dos dependentes químicos, mas que o que se deve ter é um sistema diversificado de atendimento ao paciente. “Temos que diversificar as formas de tratamento. Temos que ter esses serviços na escola, nas cadeias, no local de trabalho, nos hospitais e em outras localidades onde as pessoas frequentam. Tem que ser uma rede de serviços”, defende.
O professor Laranjeira também criticou os governantes do Estado de São Paulo que deixaram que o problema da cracolândia perdesse o controle. “Hoje já temos vários bolsões de consumo de crack em São Paulo. E não foi por falta de aviso. Desde 1996 estamos alertando sobre a agressividade do crack, Nós já tinhamos pesquisas com 131 usuários que mostravam que em cinco anos, 25% já tinha morrido. Nem leucemia tem uma taxa de mortalidade tão grande. Mas nada ou muito pouco foi feito na cidade”.
Laranjeira foi um dos palestrantes do “1º Simpósio Sulamericano de política sobre Drogas: crack e cenários urbanos”, que acontece em Belo Horizonte e discute os problemas do impacto do consumo de crack na segurança e na saúde pública, a descriminalização de drogas, e as experiências sobre o assunto na América do Sul.