A Polícia Federal (PF) vai assumir a investigação sobre a falsa entrevista de um homem que se fez passar pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ofereceu a várias emissoras estrangeiras de rádios. Até agora sob responsabilidade do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, o caso foi encaminhado à PF. Oficialmente, contudo, o órgão diz que ainda não recebeu nada.
Um delegado da PF, sob condição de anonimato, disse ao iG que a direção do órgão ainda não decidiu onde será aberto o inquérito, se em Brasília ou São Paulo.
A Abin (Agência Brasileira de Inteligência), subordinada ao GSI, fez um levantamento prévio e identificou o IP do suposto computador usado para transmitir a entrevista. “O serviço de inteligência funciona assim. Levantamos as informações e, como há a suspeita de crime, encaminhamos o caso para a polícia investigar”, disse à reportagem do iG o ministro Jorge Felix, do GSI.
Ainda segundo Felix, o importante é esclarecer se tratava de uma simples brincadeira ou se a falsa entrevista foi feita com fins “criminosos”.
Na internet, há diversos links com o áudio de entrevistas de um falso presidente Lula a rádios estrangeiras, realizadas pelo programa “Chupim”, da rádio Metropolitana FM. Segundo o Último Segundo apurou, o clima está tenso na rádio e todos os participantes da atração estão proibidos de falar sobre o assunto.
Em sua primeira edição desde que tornou-se público a história do trote, o programa “Chupim” evitou comentar o episódio. Logo na abertura do programa, nesta segunda-feira, o apresentador Marcelo Barbur, conhecido como Bebe, perguntou: “Qual é a finalidade deste programa?” Ele próprio respondeu, dirigindo-se aos ouvintes: “Para você dar uma risada quando está estressado”. Em seguida disse: “Se você der uma risadinha no programa, a gente já está satisfeito”.
O radialista conhecido como “Barthô” é apontado como o autor do trote a diferentes rádios no exterior (Angola, Moçambique, Cabo Verde), no qual se faz passar pelo presidente Lula e fala sobre a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Na última sexta-feira, um dia depois de entrevistar o falso presidente Lula, a produtora de uma rádio da Austrália consultou a Secretaria de Imprensa da Presidência da República, que confirmou se tratar de um trote. O caso foi, então, passado ao Gabinete de Segurança Institucional.
O programa “Chupim” vai ao ar de segunda à sexta-feira na Rádio Metropolitana, em São Paulo, das 18h às 20h. A principal atração do programa são justamente os trotes que aplica, em pessoas famosas ou não. Nesta segunda-feira, a vítima de um dos trotes foi um fotógrafo que oferece seus serviços a candidatas a modelo interessadas em fazer “books”. Fazendo-se passar por um homem interessado em fazer o seu “book”, o radialista levou o fotógrafo a dizer que é homossexual.
Há dois anos, em outubro de 2007, depois de receber muitas denúncias, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão estabeleceu um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Metropolitana, pela qual a emissora se comprometia a não veicular no programa “Chupim” xingamentos, ofensas morais ou físicas a mulheres, homossexuais, negros, idosos, pessoas com deficiência, indígenas, crianças e adolescentes.
A rádio Metropolitana pertence aos irmãos Jacomo e Jayr Sanzone Júnior. Eles assumiram o comando da emissora no início da década de 90, depois da morte do pai, Jayr Sanzone. Segundo a assessoria de imprensa que atende a Metropolitana, ninguém na rádio irá, por ora, comentar o episódio.
U.Seg/Mauricio Stycer e Lucas Ferraz