A Polícia Federal tem centrado seu poder de investigação mais contra o tráfico de drogas do que corrupção. Segundo números da própria instituição, das 281 operações realizadas neste ano, 72 tiveram como alvo o narcotráfico. Foram 43 as ações dos federais contra corrupção.
A tendência também se repetiu em 2008: das 235 ações, 46 eram relacionadas ao tráfico de drogas, enquanto 37 foram sobre corrupção. Naquele ano, foram presas 2.632 pessoas. No balanço de 2009, são 2.475 detidos.
“Não elegemos crimes para atuar. A polícia trabalha por demanda”, diz Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral do órgão. “Não mudou [o combate à corrupção], o que existe é uma questão de percepção.” A Polícia Federal também atribui o crescimento das operações contra o narcotráfico ao aumento do efetivo de policiais em faixa de fronteira (cresceu 57% de 2004 até agora), além dos acordos de cooperação assinados com países vizinhos como a Bolívia, um dos três maiores produtores de cocaína do mundo.
Nos primeiros anos do governo Lula, entre 2003 e 2005, quando a PF era dirigida por Paulo Lacerda (hoje adido policial em Lisboa), ocorreram 32 operações contra corrupção e apenas 13 contra narcotraficantes. Muitos delegados e agentes do órgão reclamam, anonimamente, do fato de a PF centrar sua maior força contra o tráfico.
“O dinheiro lucro do narcotráfico contribui para corromper agentes públicos e atingir inclusive altas esferas de governo. Não é por acaso que alguns países são chamados de narcoestados. Que tipo de corrupção queremos combater? Quando tiramos dinheiro ilícito desse mundo, também estamos enfrentando a corrupção”, argumenta o chefe da Polícia Federal.
Neste ano, a polícia bateu recorde na apreensão de cocaína – foram 20,8 mil quilos, pouco mais que no ano passado (20,4 mil quilos). Uma das ações mais bem-sucedidas contra o narcotráfico foi a Carga Pesada, que investigou uma organização internacional que atuava no aeroporto de Guarulhos e tinha conexões com países da África e Europa.
Entre as operações de combate à corrupção neste ano, que apuram crimes cometidos por servidores públicos, políticos, além de lavagem de dinheiro e fraude em licitação, destacam-se duas.
A Castelo de Areia, de março, desbaratou um esquema operado pela construtora Camargo Corrêa e seus funcionários. De acordo com a PF, empresas de fachada movimentavam dinheiro que teria financiado ilegalmente a campanha de políticos. Já a Caixa de Pandora, deflagrada no mês passado, apura um suposto esquema de corrupção envolvendo o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, seu vice, Paulo Octávio, além de empresários e aliados políticos.
Lucas Ferraz, iG Brasília