domingo, 22/12/2024
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Poeira se assemelha a névoa e deixa o cenário da cidade de Nobres branco com o pó do calcário

A mineração, principal atividade econômica de Nobres, cidade distante 121 quilômetros ao norte de Cuiabá, pode estar colocando a saúde dos seus 15 mil moradores em risco. Não há estudo oficial que mostre isso, mas, se andar pela cidade pode-se perceber que o branco do calcário produzido nas 12 usinas existentes nos arredores cobre ruas, telhados, árvores e gramados. Mas o perigo, nesse caso, é quase invisível. A névoa branca que sai das fábricas carrega o ar com o pó do minério, o que prejudica a saúde de quem vive na região. A situação se agrava no período de estiagem, propiciando um número maior de casos de infecções respiratórias.

Marcelo Sandrin é clínico geral com vasta experiência em casos pneumológicos e faz um alerta: “Caso esse pó contenha sílica, mineral abundante em rochas, areias e argilas poderá representar risco. A sílica provoca fibrose pulmonar e pode avançar para um câncer pulmonar no estágio final”. O médico alerta que grãos de sílica, elemento que é liberado no processo de moagem das pedras, chega aos pulmões e provoca uma pequena cicatriz, ficando preso lá. “De grão em grão, o pulmão vai endurecendo até ser diagnosticado com fibrose pulmonar”. Para que se alcance esse ponto o tempo de exposição pode chegar a até 20 anos, explicou.

A situação foi discutida na tarde desta segunda-feira (10), numa reunião articulada pelo suplente de deputado estadual e vereador por Cuiabá, Toninho de Souza (PSD). Os vereadores de Nobres, Adelian Messias (PSD) e André Avelino Bezerra (PSDB), questionaram a secretária estadual de Meio Ambiente (Sema), Mauren Lazzaretti sobre as medidas cabíveis. Ela disse que vai determinar a realização de diligências para verificar a regularidade ambiental das empresas que extraem calcário na região. “Vamos checar in loco o que está acontecendo, levantar os impactos e quais medidas são necessárias para que a gente possa devolver a normalidade para operação das indústrias e assim reduzir essa sensação de desconforto que tem sido retratado pela população”.

Toninho de Souza disse que já foram encaminhadas denúncias para providências junto ao Ministério Público e que a situação não é novidade ao setor de extração de calcário. “Isso dura há décadas e é preciso descobrir se há falhas no sistema de filtros ou se existe outro problema que precise ser solucionado”, questionou. O presidente do Sindicato das Indústrias de Extração do Calcário do Estado de Mato Grosso (Sinecal-MT), Kassiano Riedi, diz que em todas as plantas instaladas em Nobres há filtros para reduzir os níveis de poeira no ar. No entanto, admite que o sistema pode ser melhorado e cada caso precisa de uma solução diferente. Em um ponto foram unânimes: o desconforto com a poeira do calcário existe e é preciso buscar uma solução para o problema.

O presidente do Sinecal também questionou a presença da sílica na rocha calcária. Segundo ele, a legislação permite que o limite de tolerância seja de 8,0 mg/m³ de sílica, mas, que no caso de Nobres ela chega apenas a 0,95mg/m³. “Há outros tipos de indústrias de extração que praticam a moagem de pedras na região. No caso da argila e areia, por exemplo, que são matérias-primas do cimento, não há como negar que haja sílica, mas elas estão bem mais longe de Nobres e esse minério é pesado para se espalhar pelo ar a certa distância”, explica Riedi. Interrompido, Toninho de Souza o alertou para um problema grave de saúde pública que poderá se complicar caso providências não sejam tomadas. “A população não pode pagar o preço com a própria saúde em risco”.

CONVIVÊNCIA HISTÓRICA

A convivência com o pó de pedras no ar ocorre desde 1970 quando se instalou na região de Nobres a primeira indústria de cimento e, na década de 1980, as de calcário. Com o crescimento da agricultura no norte do estado, ficou mais viável comprar calcário em Nobres e foi aí que mais empresas começaram a se instalar entre o município e o vizinho Rosário Oeste. Toninho de Souza alerta que quase 60% de todo calcário produzido em Mato Grosso saem do município de Nobres e que as indústrias deveriam investir parte de sus lucros em um sistema mais eficiente de filtragem. Ele disse que o mesmo pleito levado à Sema já foi levado à prefeitura de Nobres para que se faça o acompanhamento, monitoramento e intimação para se adequar caso haja necessidade.

Para Toninho de Souza, a industrial de calcário é importante para Mato Grosso e para a região de Nobres e Rosário Oeste. Entretanto, alega que é preciso investir mais em programas e equipamentos que garantam a qualidade de vida das pessoas no entorno dessas indústrias. “Só na região de Nobres são cerca de 900 empregos e isso é bom. Mas seria melhor se conseguíssemos juntar desenvolvimento econômico com sustentabilidade e qualidade de vida, sobretudo, aos trabalhadores dessas empresas que estão ainda mais expostos ao pó”. Ele disse acreditar no potencial de crescimento do setor acima da média, mas que é preciso obs ervar também o lado humano desse processo evolutivo.

Mato Grosso se destaca entre os maiores estados produtores de calcário do Brasil. No total, são 34 empresas que comercializam calcário, sendo a grande maioria filiada ao Sinecal. Juntas, produzem cerca de 7 milhões de toneladas ano. Segundo dados do sindicato, a capacidade total de produção poderá chegar a 14 milhões de toneladas caso haja demanda e investimentos nas plantas industriais. “Algo precisa ser feito agora. Para a safra 2021/2022 é possível que só a soja ocupe mais de 10 milhões de hectares no Estado. É lógico que vai precisar de mais calcário e haverá mais poeira ainda”, finalizou Toninho. A Sema não definiu quando enviará técnicos para verificar a situação. O Sinecal sinalizou positivamente com revisão de técnicas e cobrança de mais investimentos no sistema de filtragem.

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Parmenas Alt
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A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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