A Polícia Militar do Rio investiga se policiais em serviço respaldaram a ação de uma milícia (grupo paramilitar que cobra para dar segurança contra o tráfico a comunidades carentes) no fim de semana na Cidade Alta, zona norte, onde três pessoas foram mortas. Um dos “caveirões”, blindados da PM, pode ter sido usado para acompanhar milicianos que invadiram a favela para expulsar traficantes. A guerra entre milícia, tráfico e polícia resultou em outras quatro mortes na zona norte.
Segundo o comandante da PM, coronel Ubiratan Ângelo, a investigação sobre o uso do “caveirão” está sendo tocada pelo 16º Batalhão, que policia a área, e pela corregedoria da corporação, para que haja transparência. Ele disse que a informação chegou na forma de denúncia anônima.
“Se houver a verificação da participação do nosso blindado em desvio de conduta, não tenha dúvida de que será responsabilizado. É óbvio que nós temos um sistema de controle, e todo sistema de controle pode ser burlado”, afirmou. “Não admitimos ações clandestinas. Os blindados são para proteger o policial e o cidadão de bem.”
O comandante do 16º Batalhão, coronel José Nepomuceno, informou ontem não ter indícios de uso irregular do “caveirão”. Segundo ele, o veículo tem GPS (monitoramento via satélite), portanto, o comando “sempre sabe onde ele está”. O coronel afirmou que o “caveirão” esteve na Cidade Alta após o conflito de domingo, para socorrer um PM que havia ficado ferido.
Para deter as milícias, Ângelo disse ainda que estão sendo intensificadas ações da “parte correcional”, possibilitadas pelo rastreamento de PMs que estejam atuando nesses grupos, e também “de controle eletrônico para ver o deslocamento” dos blindados. “Milícia ou não, é ação de marginal. Vamos tomar medidas não só de repressão, mas de inteligência. Os que forem identificados vão começar a ser chamados ou presos, se for o caso.”
Entre os mortos na Cidade Alta no fim de semana estão o sargento da PM Alex Mendes, suspeito de ser miliciano, e o soldado da PM Moisés da Silva Coelho, que estava de folga e foi seqüestrado quando abastecia o carro perto da favela. Ontem, o policiamento no local foi reforçado pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope).
Também houve confronto do fim de semana na favela Vila Joaniza, zona norte (dominada por milicianos e invadida por traficantes). Houve quatro mortos: o soldado da PM Carlos Henrique Lessa Ferreira e o sargento José Carlos Gonçalves, suspeitos de integrarem a milícia, um traficante e um morador, que tentava salvar crianças da linha de tiro.
As denúncias sobre milícias levaram o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) a propor ontem a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Segundo ele, a comissão seria um espaço neutro, fora do ambiente das corregedorias, para ouvir as comunidades submetidas aos milicianos.