quinta-feira, 07/11/2024
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Planeta faminto

O aspecto mais cruel da exclusão social atende pelo nome de fome. A ausência de alimentação adequada carrega consigo a falta de educação, saúde, oportunidades de trabalho e dignidade. Nos últimos meses, o aumento significativo no preço dos alimentos e o risco de faltar comida no mundo têm assustado nações, governos e, sobretudo, os que já acordam preocupados com o que colocar no prato todos os dias. A crise alimentar já é sentida no bolso do brasileiro e do mundo. A tarefa agora é evitar que essa dor chegue ao estômago.

Desde os anos 70, a indústria mundial de alimentos passou por quatro períodos preocupantes. O primeiro foi entre 1971 e 1974. Já o mais recente, começou timidamente em 2003 e fez o mundo despertar para o problema em fevereiro deste ano. Segundo o Banco Mundial, o valor final dos alimentos subiu, em média, 40% em um ano – o do trigo aumentou 130%; do arroz, 74% e do milho, 31% – e a tendência é que permaneça alto até 2010, pelo menos. O estoque mundial de grãos chegou ao nível mais baixo dos últimos 30 anos.
Recente relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) apresenta os tristes reflexos da crise. No planeta, 850 milhões de pessoas sofrem de desnutrição, e a força da atual alta de preços arrastou mais 100 milhões para a indigência. A subnutrição mata uma criança a cada cinco segundos. A região mais atingida é África Subsaariana – ao sul do deserto do Saara –, que quase não produz comida e importa metade do trigo e 84% do arroz que consome. Naquela região, 21 dos 36 países sofrem com a crise.Apesar disso, segundo especialistas, não há porque imaginar um cenário catastrófico, com gente morrendo de fome em toda parte. O problema não é e jamais foi causado por falta de alimentos, mas por falta de renda. “Este é o novo rosto da fome: há comida nas prateleiras, mas as pessoas não têm como pagar o preço do mercado”, afirmou Josette Sheeran, chefe do programa Alimentar Mundial da ONU ao jornal inglês “The Guardian”. Estudiosos brasileiros endossam: “populações gigantescas não têm renda para comprar comida. No Haiti, a taxa de desemprego é de 80%, então não interessa o preço”, analisa Ademar Ribeiro Romeiro, chefe do Núcleo de Economia Agrícola da Universidade de Campinas (Unicamp).
Na lógica do mercado, quanto mais procurados, mais caros ficam os produtos. E o que pesa no bolso de quem produz logo vai pesar também no de quem consome. Ironicamente, o aquecimento da economia é um dos fatores apontados como estopim da situação. Antonio Márcio Buainain, especialista em Economia Agrícola, diz que a recuperação de países como Rússia, China e Índia aumentou a procura e elevou os preços de todos os produtos. “A evolução rápida da demanda global por comida e a pressão de custos ajudaram a gerar essa situação”, conclui.
Neste panorama, o Brasil ganha destaque porque tem espaço e tecnologia para produzir alimentos em larga escala e pode ajudar muito a cumprir o desafio que a ONU lançou para o mundo: dobrar a produção de alimentos até 2030. Apesar do potencial brasileiro, é preciso ainda investir mais na agricultura de subsistência e na distribuição de renda, uma vez que dobrar a produção só fará baixar os preços por conta de um aumento na oferta, sem resolver. É preciso ainda promover mudanças nos padrões comportamentais, uma vez que o desperdício é problema grave. A agrônoma Cristina Amaral, da ONU, afirma que “essa crise marca o fim de uma época de comida a baixo custo e petróleo abundante”. O cenário trágico desenhado pela crise econômica manda um recado: se as pessoas não passarem a consumir de modo mais consciente, ninguém terá acesso à comida, água e qualidade de vida amanhã. Nem pobres, nem ricos.

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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