– Confirme se posso descer ou se mantenho a altitude.
Como restavam 30 milhas (55 quilômetros) até o ponto em que o Legacy deveria, obrigatoriamente, baixar de 37 mil para 36 mil pés, a ordem do controlador de vôo foi:
– Ok. Mantenha.
Embora não considere esse um fator crucial para explicar as causas da colisão que matou 154 pessoas, a Aeronáutica não descarta a hipótese de um mal-entendido na comunicação entre o Cindacta e o americano. “Ele (Lepore) pode até ter entendido isso como uma autorização para voar a 37 mil pés durante todo o trajeto, mas não é o que constava em seu plano de vôo. A mudança de altitude deveria ocorrer apenas sobre Brasília”, disse um oficial da Força Aérea Brasileira (FAB). “Podemos dizer que 98% do porcentual de culpa é do jato e 2% do controle de tráfego aéreo.”
Uma cópia da fita com esse diálogo foi entregue pela Aeronáutica ao delegado Renato Sayão, da Polícia Federal, encarregado do inquérito que investiga o acidente. Os oito controladores que trabalhavam no dia do acidente foram intimados a prestar depoimento. Entre eles, quatro tiveram participação direta na condução do jato – inclusive o controlador que manteve o diálogo com os pilotos e o supervisor da equipe.
A investigação da PF constatou que os pilotos do Legacy não fizeram o briefing antes da decolagem, em São José dos Campos. Fontes da Aeronáutica explicam que, embora não seja obrigatório, o procedimento orienta o piloto sobre sua rota e o informa a respeito das condições meteorológicas.
Se tivessem feito o briefing, Lepore e o co-piloto do jato, Jan Paul Paladino, saberiam que, em Brasília, teriam de descer para 36 mil pés. “Se tivessem essa convicção, eles teriam condições de discordar do controlador”, observou o presidente da Associação dos Controladores de Vôo do Rio, Jorge Botelho – para o qual houve erro das duas partes: pilotos e controladores deveriam ter sido mais explícitos na comunicação.
Buscas seguem nesta terça-feira
Nesta segunda-feira, o Instituto Médico-Legal do Distrito Federal teria identificado mais 3 vítimas, elevando o total para 152. Porém, oficialmente o IML só confirma a identificação e liberação de 149 corpos de 150 recebidos.
Um cruzamentos entre a lista de vítimas identificadas até esta segunda-feira e a relação de passageiros e tripulação divulgada pela Gol mostra que não foram identificados os corpos de Gilson Azeredo, Huederfidel Viana, Marcelo Paixão Lopes, Vandemir Oliveira e Joana Darc. As buscas continuam hoje.
Investigações
Impaciente com a demora no recebimento de informações da Aeronáutica, consideradas fundamentais para as investigações do choque entre o jato Legacy e o Boeing da Gol, o delegado da Polícia Federal Renato Sayão foi ontem ao Ministério da Defesa pedir ao ministro Waldir Pires que centralize o recebimento dos dados e os repasse à PF. Sayão quer ter as informações, “se possível, ainda esta semana”.