A adolescente italiana dizia que as pontadas de dor em seu rosto eram como choques elétricos que duravam de 10 a 30 segundos e atacavam de 20 a 30 vezes ao dia. Os médicos diagnosticaram neuralgia do trigêmeo, um distúrbio às vezes chamado de “doença do suicídio”, por conta do desespero que acompanha as dores intensas que causa.
Os médicos tentaram analgésicos e depois remédios ainda mais fortes, mas no final a solução se mostrou mais simples: a jovem retirou o piercing metálico que trazia na língua. Dois dias depois, a dor sumiu. O relato, que consta da edição de hoje do Journal of the American Medical Association, é apenas o mais recente caso documentado de complicações, algumas quase letais, trazidas pelo piercing de língua.
Outros problemas incluem tétano, infecção cardíaca, abscesso cerebral, dentes lascados e retração das gengivas. Uma mulher desenvolveu tantas cicatrizes que ela passou a se referir ao tecido acumulado como “uma segunda língua”. No caso italiano, o adorno na boca da jovem aparentemente irritou um nervo que passa pela mandíbula, debaixo da língua. Esse nervo se liga ao nervo trigêmeo, um dos maiores da cabeça. “Tem gente que caiu de joelhos” por causa de dor no trigêmeo, disse Alana Greca, diretora da Associação de Neuralgia do Trigêmeo. “A dor pode ser intensa e horrível”.
A jovem teve sorte de se curar, disse Greca. “Certamente, foi um caso isolado, uma complicação extremamente rara desse tipo de piercing”, disse o médico Marcelo Galarza, neurocirurgião do Hospital Villa Maria Cecilia, na Itália, que reportou o caso. A língua é “um lugar perigoso de perfurar”, porque é rica em vasos sanguíneos que podem disseminar infecções para órgãos importantes, além de estar perto de nervos importantes e das vias respiratórias, disse ele.