No material entregue há fotos de outros aliciadores e de casas de câmbio onde são realizadas as operações. O esquema funciona há pelo menos dois anos no Centro de São Paulo. Nele, centenas de moradores de albergues são aliciados e recebem R$ 10 para emprestar seus RGs, CPFs e assinaturas em processos de compra e envio de dólares para o exterior.
As transações ocorrem em pelo menos seis casas de câmbio da Cidade e são feitas da seguinte maneira: o albergado recebe do aliciador uma senha e a entrega na casa de câmbio; o funcionário do local, então, solicita a ele seu RG e CPF. Em seguida, o caixa emite um boleto de câmbio com os valores da transação e pede ao laranja para assiná-lo. O albergado assina o papel e o entrega ao funcionário. Ele guarda o documento e devolve ao laranja a senha carimbada. A senha, então, é entregue ao aliciador que paga R$ 10 ao morador de albergue.
Cada aliciador tem uma cota de laranjas por casa de câmbio. Dependendo do valor da transação financeira, a cota aumenta ou diminui. Há dias em que os moradores de albergues fazem filas nas casas para servirem de laranjas no esquema. Eles não levam ou saem com o dinheiro, apenas assinam o boleto de câmbio e vão embora, atrás do aliciador para receber o combinado.
Os integrantes do esquema pagam até táxis para levar os laranjas até as casas de câmbio mais distantes do Centro. O JT apurou que há pelo menos sete pessoas que passam o dia arrumando laranjas. Um deles, parente de um funcionário da Câmara Municipal, afirmou ter aliciado mais de 100 pessoas.
As investigações iniciadas pela PF devem apontar quem está por trás do esquema e volume de dinheiro envolvido. Anteontem, antes da publicação da matéria, o JT solicitou à PF entrevista com um delegado. A assessoria de imprensa não respondeu à solicitação e ontem enviou um e-mail dizendo que os policiais irão investigar o caso, apesar de ele já estar prejudicado por conta da publicação da reportagem. A PF não informou o nome do delegado responsável pelas investigações.
Anteontem, o diretor financeiro de uma das casas de câmbio se disse surpreso com a notícia das operações fraudulentas . A instituição em questão possui filiais em todo o Brasil. Os nomes das casas estão sendo preservados para não atrapalhar as investigações.