A Polícia Federal suspeita de que várias quadrilhas especializadas em tráfico de mulheres atuem em Mato Grosso, levando-as para se prostituir em cidades da Espanha e, de lá, para outros países da Europa. Até agora, somente nos quatro primeiros meses deste ano, duas delas já foram desarticuladas e, embora não tenham conexão entre si, ambas aliciavam mulheres para trabalhar em prostíbulos da Espanha. Os dois bandos agiam há mais de três anos recrutando mulheres para se prostituir, em esquema no qual a Espanha funciona como destino inicial da maioria das vítimas do tráfico.
Como a Polícia Civil de Mato Grosso também desarticulou mais duas quadrilhas ligadas à prostituição em Cuiabá, e considerando os indícios de que algumas mulheres possam ter embarcado para a Europa, com propostas de emprego fictícias apenas para esconder o objetivo real que é a prostituição, as suspeitas de tráfico internacional de mulheres na Grande Cuiabá são muito maiores.
No final de fevereiro, a Polícia Federal, em trabalho conjunto desenvolvido com a Interpol, chegou até Élcio Rodrigues Souza, apontado como responsável pelo aliciamento de mulheres principalmente na área da Grande Cuiabá. Ele morava em Várzea Grande, mas há três anos vive na Europa, na cidade de Vigo, numa casa onde foram encontradas mais três mulheres cuiabanas.
Na semana passada, os agentes federais prenderam o espanhol Juan Ruiz Blanco, de 30 anos. Ele foi preso sábado passado, no aeroporto Marechal Rondon, em companhia de uma mulher, que mora em Cuiabá e que estava sendo levada para a Espanha.
Dias depois, a PF prendeu o massoterapeuta, técnico em radiologia e estudante de Direito Cleberson Rodrigues Sigarini, de 23 anos, acusado de participar do mesmo esquema de tráfico de mulheres. Além deles, mais pessoas estariam envolvidas no esquema, a partir de Mato Grosso. Cleberson é acusado de procurar as mulheres e entregar o cadastro para Juan, mas os dois negam.
De acordo com as investigações, nove em cada 10 mulheres sabiam que iriam se prostituir na Espanha, mas não contavam para a família. Ao descobrir o tamanho da exploração a que se teriam de submeter, acabavam ligando para parentes pedindo que acionassem a Polícia.
Pelo esquema, a mulher ficaria entre um e dois anos no destino. Tinha o passaporte retido até conseguir 5 mil euros para o pagamento das passagens e hospedagem. Esse tempo seria de, no mínimo, seis meses.
“Em alguns casos, no entanto, esse valor demorava muito mais tempo para ser ressarcido. Só então, a mulher percebia que estava mesmo sendo explorada sexualmente e tentava entrar em contato com a família no Brasil”, observou um agente federal. A PF descobriu que os aliciadores estavam fazendo contato com prostitutas profissionais que mudariam de profissão – seriam babás e empregadas domésticas. O problema é que essa mudança chama mais a atenção das autoridades.
A prisão de Élcio Rodrigues ocorreu graças a denúncia de uma cuiabana levada para Vigo (Espanha). Outras três mulheres que moram na Grande Cuiabá ainda estão sob seu domínio, naquela cidade do litoral espanhol. A rede parece atender a taras de clientes, expondo as vítimas a situações bizarras e violentas.