Não é só o uso da máscara e as sessões de sexo. O puppy play é quase um estilo de vida.
Anderson tem 27 anos, é gay, trabalha na área de logística e há pouco mais de um ano desenvolveu sua persona canina. Ele se inspirou ao ouvir uma entrevista no Agita Planeta, site com programação BDSM (sigla que reúne práticas sadomasoquistas).
O jovem ficou curioso quando os leather guys Presto, Cacho, Rocco e Gama – galera que comanda a cultura do couro no Brasil — falavam sobre o pet play ou puppy play. O quarteto disse que o movimento está crescendo na comunidade gay e ganhando festas e encontros organizados pelo site Dog Play Brasil.
“Fiz uma análise pessoal da minha personalidade e procurei um cachorro que tivesse as mesmas características que me representassem, chegando à conclusão de que seria um São Bernardo”, conta Anderson ao HuffPost. No dog play, ele é chamado de Axel. O nome surgiu em uma conversa com a Domme Allana Prado, uma hostess de eventos fetichistas de Santo André (SP). “Ela sugeriu que meu nome começasse com a mesma inicial do meu real e que transmitisse a minha personalidade.”
O estilo de vida dos cães humanos é bem diferente das práticas mais conhecidas de submissão e BDSM. O movimento saiu do armário há pouco mais de 15 anos, quando a internet permitiu o compartilhamento de imagens das sessões e reuniões e começou a atrair pessoas que já gostavam da prática, mas não sabiam onde nem como fazer.
A maioria dos praticantes são homens gays que encontram prazer em vestir roupas de látex e acessórios de couros e também na interação típica de submissão entre animal de estimação e dono.
A relação dono e dog é de troca. Um oferece disciplina, comando e adestramento. O outro oferece obediência, atenção e respeito.
Axel conta que, na prática, um dono pode ter mais de um dog sob seu comando. “A matilha é um grupo de dogs sobre o qual o líder mantém a ordem do grupo. Não pode haver conflito entre os dogs, porque todos são submissos”, explica o dog.
Rolam sessões de sexo, mas não é obrigatório… Tudo depende da relação entre dog e dono. No caso do pet play, a predominância é de sessões nas quais o dono dá ordens de adestramento e o dog se comporta como um cachorro qualquer. Vai buscar a bolinha, brinca com o osso, levanta a pata, caminha de quatro, rosna e, claro, quando se comporta bem, ganha carinho na barriga.
A comunidade dog está crescendo de forma consideravelmente rápida em São Paulo. Encontros como o Jantar Leather, organizado por Dom Barbudo – Mr. Leather Brasil em 2017 -, e o Leather na Rua, um passeio aberto pelas ruas, já contam com calendário fixo e um número generoso de participantes.
A casa de sexo Upgrade anunciou que está organizando a primeira Petzone, um encontro de “treinamento” de dogs, em que os participantes poderão usar suas máscaras em todo o ambiente da casa já conhecida por suas festas temáticas.
A gente late; não pode falar para expressar um desejo. Tem que puxar o dono mordendo a coleira até o local, por exemplo, para urinar, comer…
Para Axel, o pet play é diversão. “Claro que a persona é o próprio indivíduo que desenvolve, mas o treinamento é feito por um handler, o cara que treina o comportamento e a obediência ao seu dono.”
O caso de Axel e seus amigos é chamado especificamente de dog play. No pet play, porém, a representação de outros animais é permitida. Os mais comuns são cavalos, gatos e pôneis, mas certamente os dogs dominam a cena.GALERIA DE FOTOSPet Play: O fetiche de se comportar como animalVeja Fotos
O movimento anda tão organizado que a Puppy Pride organiza um evento que recebe gente do mundo inteiro todos os anos nos EUA. Na lojinha, é possível encontrar tudo o que os players usam para os encontros, como máscaras, luvas, joelheiras, tênis, bolinhas, ossinhos — que podem ser consumidos —, coleiras e os famigerados arnês que, dependendo da cor, podem indicar uma prática extra (sexo oral, fisting, pissing).
Um único estudo feito sobre cães humanos pelo pesquisador Liam Wignall, da Universidade de Sunderland, em 2015, afirma que para os participantes a maior fonte de prazer nesses encontros é poder esquecer suas preocupações cotidianas e as pressões diárias que enfrentam no dia a dia. Para os puppies, é importante não rotular como “patologia” as atividades e comportamentos que diferem do habitual.
Se você está curioso em ver os caras brincando e se divertindo no pet play, sem estar presente em um encontro, assista ao vídeo Puppy Play Magic For Humans, da Netflix. É bem legal; é mais humanizado do que a gente imagina e talvez o faça descobrir o animal que exista dentro de você.
Onde viver sua fantasia pet
Eagle São Paulo – Sem dia especial, você pode simplesmente aparecer com sua máscara acompanhado de seu dono ou simplesmente sozinho e por lá encontrar um dom. Há festas temáticas anunciadas no site para os amantes do puppy play mensalmente.
1ª Pet Zone da Upgrade Club– A festa vai reunir os dogs e os dominadores para um encontro em que o fetiche é correr (de coleira, claro) solto pelos quatro cantos do cruising já conhecido por suas festas temáticas. A Pet Zone deve entrar para o calendário fixo da casa.
Projeto Luxúria – Festa que reúne os amantes dos mais diversos fetiches e oferece workshops sobre os temas do BDSM e outros para quem quer começar a praticar. Os eventos são sempre anunciados no site e reúne dominadores e submissos do Brasil inteiro.