Em meio a colheres de pau, pilões, pentes e outros artigos de madeira, a vendedora ambulante Valdelice Alves, de 40 anos, ganha de R$ 4 mil a R$ 5 mil líquidos mensais. Para completar a renda, ela ainda conta com a banca do marido, que lucra a mesma quantia – o que faz o orçamento da família Alves engordar para R$ 10 mil mensais. “Já fui cozinheira, com carteira assinada, mas não compensa”, diz.
Valdelice faz parte dos 4,1 milhões de trabalhadores que, por falta de emprego ou por opção, trabalham por conta própria e foram pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Eles representam 19,2% da população ocupada, sendo 60% formado por homens acima dos 50 anos, com renda média de R$ 1.013. De 2002 a 2008, o número desses trabalhadores informais cresceu até 30,7%, em São Paulo, (veja no quadro abaixo).
Um estudo publicado pelo Centro Internacional da Pobreza (CIP) apontou, ainda, que o setor informal é mais eficiente do que o formal para retirar as pessoas da pobreza. A pesquisa avaliou pessoas abaixo dessa linha, nas mesmas capitais brasileiras analisadas pelo IBGE. Enquanto 1% dos trabalhadores pobres no setor formal saiu da pobreza no mês seguinte, por conseguir um emprego, 3% dos que optaram pela informalidade atingiram o mesmo patamar. “Pobres são aqueles que ganham valores inferiores a 60% da renda média da região. Para eles, o caminho está no setor informal, onde terão mais chances de saírem da pobreza”, analisa uma das pesquisadoras do estudo, Ana Flávia Machado, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Apesar da boa notícia, nem tudo é lucro na vida dessas pessoas. Severino Farias, de 27 anos, há 2 tem uma banca de rua. Ele ganha mais do que quando trabalhava de atendente. “Prefiro, mas perco também. Como não sou autorizado, tenho que correr da polícia. Em menos de dois meses, já levaram uns R$ 3 mil em mercadoria”, conta.
Já Ivanildo Francisco Sousa, de 49 anos, não entrou na informalidade por opção. “Perdi o emprego. Hoje, passou dos 40 anos ninguém mais quer empregar”, lamenta. Ele ganha cerca de R$ 2 mil mensais com a banca de bijuterias.
De acordo com a psicóloga Carmen Rittner, professora do Núcleo de Psicologia Organizacional e do Trabalho da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) o cenário enfrentado por Sousa é o mais comum. “O emprego mudou. Hoje são raras as vagas com carteira assinada e profissão definida. Até pessoas qualificadas têm ficado à margem. Isso não tem volta”, avalia.
Mas a idéia da informalidade não agrada os próprios camelôs quando o assunto é a geração futura. Os dez entrevistados pela reportagem afirmaram que, para eles, não há problemas em ficar nessa vida, mas para os filhos, a situação é diferente. “Eles têm que estudar e ter uma profissão. Ser camelô não é a vida que quero para eles”, diz Sousa.
F.Uni