De acordo com dados do Ministério da Saúde, 7,4% da população afirma ter diabetes. Muitas dessas pessoas dirigem, já que ter a doença não é um impedimento na hora de conseguir uma habilitação. Mas o problema pode sim gerar riscos a quem está ao volante.
Segundo Dirceu Rodrigues Alves, chefe do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), os sintomas que o diabetes gera devem ser a principal preocupação do motorista.
“O diabético tipo 1 é aquele dependente da insulina. Esses pacientes têm a glicemia muito instável. Com a presença da substância, eles podem desenvolver a hipoglicemia, que é a queda do açúcar no sangue”, explicou.
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A queda nos níveis glicêmicos pode gerar sintomas como tontura, fraqueza, confusão mental, sonolência e visão embaçada. Em casos muito graves, a pessoa pode até ficar inconsciente. É na hipoglicemia que está o risco de um diabético dirigir.
“Aquele de tipo 2, que começa o tratamento com comprimido, pode também ter quadros de hipoglicemia graves com consequências na direção veicular”, afirmou o especialista.
Ana Gabriela Rezende, de 32 anos, passou por um susto quando sofreu um acidente por conta de um quadro de hipoglicemia em 2008. A assistente-administrativo voltava para casa do trabalho quando desmaiou por alguns minutos. Ela sentia fome, mas não chegou a reconhecer os outras sintomas da queda de glicose.
“Depois de fazer uma curva, eu subi na calçada de uma empresa. O carro foi estragando por baixo e parou”, contou. Após acordar e ser ajudada por pessoas que passavam na via, ela ligou para o marido, que logo imaginou que o nível de açúcar da esposa deveria estar baixo.
Felizmente, ninguém se machucou – apenas o carro, que havia sido comprado pouco tempo antes e foi totalmente perdido. Hoje, quando Ana vai para o banco do motorista, ela sempre redobra a atenção. “O primeiro passo é medir o nível da glicemia, e, por precaução, sempre como alguma coisa, nem que seja uma bala, parar evitar mesmo que baixe de repente”, explicou.
Devo abandonar a direção?
A reposta para a pergunta acima é sim e não. Dr. Dirceu afirma que nada impede uma pessoa com diabetes a ter uma vida normal como qualquer outro indivíduo, mas é preciso equilíbrio.
Se a pessoa acabou de iniciar o tratamento para o diabetes, uma doença crônica, a recomendação é deixar a direção temporariamente. “O motorista só deve voltar a dirigir depois de um tempo determinado pelo próprio médico de uso do remédio e equilíbrio da glicose”, indicou o especialista.
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Após esse período inicial, a pessoa vai saber reconhecer quando está tendo um quadro de hipoglicemia. “Ela já sabe que está com o açúcar alterado e que vai ter de tomar previdências: comer um alimento com açúcar, por exemplo”, disse Dr. Dirceu.
Heloisa Altenburg convive com o diabetes há 23 dos seus 24 anos de idade e já experimentou algumas indesejadas hipoglicemias ao volante. "Não dá para especificar como me sinto toda vez, até porque sempre é diferente. Levo em conta alguns fatores como alimentação do dia, exercícios e carga emocional", compartilhou.
"Tudo isso afeta para que a minha glicose abaixe. Algumas vezes, sinto como se estivesse flutuando, outras muita fome ou só irritação mesmo. Por mais controle que se tenha, estamos sujeitos a ter hipoglicemias quando menos esperamos", alertou a assistente-administrativo.
Recomendações
Se após iniciar o tratamento e equilibrar o diabetes o motorista voltar a dirigir, é hora de passar a tomar outros cuidados. Em caso de estar com o veículo em movimento e começar a se sentir mal, é preciso encontrar um lugar para estacionar. O paciente precisa verificar o nível glicêmico e analisar se é possível continuar o trajeto ou necessário pedir ajuda.
Já quando é preciso dirigir por muitas horas, no caso de uma viagem ou até trabalho, por exemplo, a orientação é realizar o teste de glicemia uma hora antes de pegar a direção e repeti-lo após cerca de quatro horas. Caso o nível esteja abaixo de 70 mg/dl, o carro deve ser estacionado.
Anielle Miranda, 25, descobriu o diabetes aos 6. Ela começou a dirigir há um ano e meio e, mesmo sem ter muita experiência ao volante, já é bem consciente em relação aos cuidados com a doença.
“Eu sempre meço a glicose antes de dirigir, e, quando sinto que está me dando hipoglicemia, dou um jeito de parar para medir e já ingerir alguma coisa”, explicou a jovem, que leva no chaveiro do carro um alerta avisando que é diabética.