Feministas radicais mundo afora já chamaram muitos homens de ratos — e, pelo que indica a variante de um certo gene, elas têm razão em ao menos alguns casos. Uma equipe internacional de pesquisadores descobriu que variações nesse gene, o mesmo que faz com que certos roedores sejam fiéis a suas parceiras ou promíscuos, também influencia a fidelidade masculina entre seres humanos. A descoberta mostra que há um impacto “modesto, mas significativo” da genética sobre o comportamento sexual e familiar das pessoas — embora o efeito esteja longe de determiná-lo.
A pesquisa, capitaneada por Hasse Walum, do Instituto Karolinska, na Suécia, está na edição desta semana da revista científica americana “PNAS” . Walum e companhia usaram como base um trabalho clássico sobre genética comportamental, envolvendo arganazes (roedores do gênero Microtus), criaturinhas como o bicho da foto acima.
Variações em regiões reguladoras do mesmo gene parecem levar a alterações significativas no comportamento sexual e social dos arganazes e dos homens estudados. O gene codifica a AVP (nome completo: arginina vasopressina), um mensageiro químico do cérebro. Ao que parece, diferenças no trecho de DNA ligado à regulação desse gene fazem com que os arganazes-da-pradaria (Microtus ochrogaster) tenham relações predominantemente monogâmicas com suas parceiras, enquanto seus primos, os arganazes-da-montanha e os arganazes-da-campina, adoram uma libertinagem, não se apegando a nenhum rabo de saia.
Analogia humana
As regiões reguladoras de DNA que são tão importantes para a vida social e sexual dos arganazes não apresentam variação entre humanos, mas o gene da AVP propriamente dito também tem variabilidade na nossa espécie. E aí é que entra um grupo muito especial de cobaias humanas, o Estudo de Gêmeos e Filhos da Suécia. Formado por 552 pares de gêmeos e suas esposas ou maridos (ou companheiros, no caso de casais não-casados), trata-se de um conjunto especialmente interessante para estudos genéticos por causa da semelhança de 100% (ou muito próxima disso; afinal, mutações acontecem) entre gêmeos idênticos no nível do DNA.
Além de examinar o gene da AVP, os pesquisadores também usaram questionários psicológicos padronizados, no intuito de desvendar o grau de proximidade e afeição entre os casais (com questões do tipo “vocês pensaram em se divorciar ultimamente”?). E as descobertas nesse quesito foram um bocado interessantes.
Em resumo, os homens portadores de uma certa variação do gene tinham o dobro da probabilidade de ter passado por uma crise séria no casamento no último ano, e também o dobro da probabilidade de estar num relacionamento sem ser casado “de papel passado”, como se diz. Finalmente, a mesma variante do gene, quando presente, também fazia com que a avaliação das esposas ou companheiras sobre seus parceiros ficasse mais negativa. E o efeito é mais pronunciado se o homem em questão carrega duas cópias da variante genética, em vez de apenas uma.
“O efeito relativamente pequeno desse polimorfismo não significa que ele possa ser usado para prever o comportamento de casal de seres humanos em nível individual”, alertam, no entanto, os pesquisadores. Portanto, ninguém ainda tem carta branca para sair por aí culpando o próprio DNA pelo hábito de pular a cerca.
G1