Para aqueles que gostam, Literatura não se restringe às páginas dos livros. Compartilhar as opiniões com outros leitores, ter seu exemplar autografado pelo autor e participar de feiras e encontros literários enriquece ainda mais a experiência de leitura. Para Frederico Fernandes, professor da Universidade Estadual de Londrina [UEL], os festivais literários têm um grande potencial de desenvolvimento para uma comunidade. Por isso, eles são o objeto de estudo da sua pesquisa atual.
Encontros desse tipo sempre acompanharam a humanidade. Segundo o pesquisador, desde a Grécia Antiga já existiam reuniões do tipo. Nos dias atuais, são nesses eventos que os escritores entram em contato com o público, divulgam suas obras e acabam formando uma rede com outros profissionais da área.
Professor do curso de Letras, Frederico considera os festivais o meio de circulação da literatura contemporânea. Para ele, o seu projeto de pesquisa se mostra relevante já que coloca os acadêmicos de Letras em contato com o a área da produção e da circulação do texto literário. Sua intenção é fazer uma comparação entre alguns festivais brasileiros e italianos. Para fazer essa investigação, o professor passou o ano de 2014 na Itália visitando alguns eventos do gênero. Para a realização da pesquisa, Frederico contou com o financiamento de uma bolsa de estágio sênior de pós-doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior [Capes] em parceria com a Fundação Araucária, junto à Universidade de Bolonha.
Além da pesquisa in loco, ou seja, visitando os eventos e conversando com seus participantes, o professor também trabalha com um referencial teórico pautado pelo israelense Itamar Even-zoah, que criou a Teoria dos Polissistemas Culturais. Segundo esse pensamento, vários sistemas culturais estão interligados e se cruzam na produção artística. “Por exemplo, nós pensamos literatura, mas não podemos situá-la sem a telenovela, sem a música, sem as editoras, sem o circuito editorial, sem os comerciais. Ou seja, vários sistemas culturais estão integrados e se atravessam na criação do texto literário”, diz Frederico. Even-zoah também tem trabalhos na área de tradução, estudando a influência de uma língua sobre outra através desse processo.
Munido desses conceitos, o professor já fez algumas análises sobre o que descobriu na Itália. Em recente artigo publicado na Revista Nonada, Frederico faz um estudo de caso de seis festivais italianos. Os eventos não se resumem à venda de livros, contando com uma programação que inclui apresentações artísticas, presença de escritores renomados e iniciantes, palestras, entre outras atividades.
Um dos pontos interessantes citados foi a construção da identidade de uma comunidade através dos festivais literários. Segundo o professor, a construção dessa identidade acaba gerando um debate político que não depende instituições formais. Ela se dá através das pessoas que participam na organização ou prestigiando o evento e enxergam nele a manifestação de sua própria cultura.
O artigo defende que um evento literário pode atrair um público disposto a consumir não só livros, mas também um pouco da cultura local, frequentando museus, monumentos históricos e restaurantes. Dessa forma, o festival não busca só promover a literatura, mas também o patrimônio histórico, cultural, social e gastronômico do lugar.
Por estar em andamento, os dados referentes ao Brasil ainda não foram estudados. Dessa forma, a segunda fase da pesquisa irá se dedicar a analisar os festivais brasileiros para depois compará-los com os italianos, não só em tamanho e público, mas também levando em conta os modelos dos encontros e os polissistemas culturais que aqui atuam. O objetivo é estudar algumas feiras e encontros nacionais, dando especial atenção ao Londrix – Festival Literário de Londrina, cidade onde trabalha.