A peça inglesa “Cascavel” ganha sua primeira montagem brasileira, em temporada virtual a partir de 29 de julho
Os canais nacionais que registram a violência contra a mulher receberam mais de 105 mil denúncias em 2020. Do total, 75,7 mil foram referentes a atos domésticos e familiares. Em vários países do mundo, esse tipo de violência se intensificou durante a pandemia, quando as vítimas se viram confinadas com seus agressores. Os dados recentes mostram a atualidade do espetáculo “Cascavel”, escrito pela inglesa Catrina McHugh, em 2015, para colocar em cena os horrores do feminicídio. Dirigida por Sérgio Ferrara, a peça ganha sua primeira montagem brasileira, a partir do dia 29/07 pela plataforma Sympla, com as atrizes Carol Cezar e Fernanda Heras, que expõem os diferentes tipos de abuso possíveis em um relacionamento. As sessões, de quinta a domingo a qualquer horário, exibirão uma gravação do espetáculo realizada em julho no Teatro Poeira, no Rio de Janeiro.
Na estreia, haverá uma roda de conversa com as atrizes do espetáculo e, como convidada, a Dra. Gabriela Manssur, promotora de Justiça do Estado de São Paulo e presidente do Instituto Justiça de Saia (às 20h30 no Instagram @cascavelapeca). Baseada em histórias reais, a peça é patrocinada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura, MXM Sistemas e Serviços de Informática, Top Down Consultoria de Projetos, Carelink Consultoria em Saúde e Sistemas de Informática, Bedois Consultoria e Corretora de Seguros e Norte a Sul Corretora de Seguro, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS.
O espetáculo acompanha Suzy (Fernanda Heras) e Jen (Carol Cezar), e suas conturbadas relações com James (interpretado pelas duas atrizes), um homem que cerca e controla as mulheres em sua vida. Como uma cobra traiçoeira, com um veneno potencialmente mortal, ele começa a destruir a vida de cada uma. Elas falam sobre como conheceram James, e a mudança de comportamento dele à medida em que o relacionamento avançava. Suas histórias são muito parecidas. Aos poucos, James começa a controlar Suzy e Jen, afastando-as do mundo e fazendo dele, e de seu comportamento repressor e agressivo, o centro da existência das duas.
“Cascavel” foi originalmente desenvolvida como parte de um programa de treinamento para aumentar a conscientização de policiais da cidade de Durham, no nordeste da Inglaterra, local onde as mulheres não tinham voz. A lei do Reino Unido foi alterada em 2015 para tornar o controle coercitivo em relacionamentos um crime. É a primeira vez que o espetáculo é montado fora da Grã-Bretanha. Sem linearidade, com cenas que intercalam o passado e o presente, o texto é construído a partir de depoimentos das duas personagens.
“A peça detalha o comportamento de James com Suzy e Jen, as manipulações que levam as personagens a viverem com dúvidas e inseguranças e o desfecho desses relacionamentos. É importante lembrar que a violência que uma mulher sofre não termina quando o agressor é preso ou afastado. Ela, muitas vezes, tem que lidar com as sequelas daquela agressão ainda por um longo período. A gente quer que as espectadoras possam olhar para aquelas cenas e sentirem que têm voz.”, comenta a atriz Carol Cezar.
Segundo a Lei Maria da Penha (Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006), existem cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial. A história de “Cascavel” mostra ao público diferentes maneiras que essa violência pode se manifestar e como afeta a vida das duas personagens. “Além da violência física, há muitos outros tipos de abuso pelos quais a gente passa e só vai entender muito tempo depois. Os danos psicológicos são enormes. A sensação é de perda de autoestima e de que a nossa personalidade vai desaparecendo. Como ficam essas mulheres depois de passar por isso? Esse é um conflito universal”, acrescenta a atriz Fernanda Heras.
Este é o quarto espetáculo em que Fernanda e Carol dividem a cena. Já estiveram juntas em “A hora perigosa” (2014), “A Serpente” (2017/2018) e “Amor é química” (2019). Pela primeira vez, a dupla, que também é responsável pela produção, trabalha com o premiado diretor e psicólogo Sérgio Ferrara. “Acho importante esse papel antropológico que o teatro também pode ter, de pesquisa de temas sociais. Tenho pensado muito no teatro como representação do indivíduo, da sociedade e da comunidade. Procuro textos que nos permitam refletir sobre a exclusão social para exercer também o meu papel de cidadão por meio do teatro”, comenta Ferrara. “Pelo lado artístico, “Cascavel” é uma peça muito instigante: tem uma carpintaria teatral ágil, o texto flui, a dramaturgia propõe um jogo teatral interessante, no qual as personagens podem viver várias facetas do que elas passaram. Acredito, assim como a autora Catrina McHugh, que a gente só vai conseguir mudar o mundo a partir das nossas histórias”, acrescenta o diretor.
Para o tradutor, Diego Teza, o que mais chamou a atenção na dramaturgia foi como a autora conseguiu, de maneira direta e ao mesmo tempo muito sensível, personificar relatos fortes dessas mulheres. “O texto, num piscar de olhos, nos aproxima dessas personagens e nos faz testemunhar o dia a dia sufocante e devastador dessas sobreviventes”, comenta. “A peça serve como um alerta geral para mulheres que estejam em relacionamentos abusivos e que talvez nem percebam que estão. E também um alerta para as famílias e amigos, para que prestem atenção nos sinais silenciosos do sofrimento”, completa.
Para construir a atmosfera da história, o cenógrafo Nello Marrese se inspirou no mito do labirinto do Minotauro, onde jovens eram sacrificadas ao monstro, que possuía corpo de homem e cabeça de touro. O artista também usa elementos que remetem ao Memorial aos Judeus Mortos na Europa, em Berlim, composto por blocos de concreto de tamanhos variados que dão uma sensação de desorientação. “Imagino o abusador como um Minotauro e as mulheres como reféns de uma violência que as deixa desnorteadas naquele labirinto”, explica Marrese. O figurinista Kleber Montanheiro criou peças sobrepostas, de tons invernais e outonais, com inclusão e retirada de elementos conforme as atrizes vão mudando de personagem. “O figurino, composto por calças, saias, blusas com casacos por cima, vão interferir na ação, já que elas vão tirar e colocar as roupas muitas vezes durante o espetáculo. Usamos também cortes geométricos para que essas roupas pareçam se transformar, dependendo do posicionamento da câmera”, explica. A iluminadora Adriana Ortiz lembra que “para a luz ajudar a contar estas histórias deverá ter um viés confessional e inquisidor”.
Sobre Catrina McHugh
Originalmente de Liverpool, Catrina McHugh mudou-se para Newcastle, Inglaterra, em 1993. Impulsionada por uma crença apaixonada de que o grande teatro pode trazer mudanças sociais, ela cofundou o Open Clasp, em 1998. Trabalha criativamente com as mulheres menos favorecidas e com as comunidades para criar um teatro excitante e de risco, fornecendo estímulos poderosos para discussão e debate. Sua peça “Key Change” venceu o prêmio de Melhor Espetáculo de Edimburgo, em 2015, e foi apresentada para os parlamentares na Câmara dos Comuns. Premiada com um MBE (membro da excelentíssima ordem do governo britânico), Catrina McHug promove, com suas peças, mudanças sociais em escala global. “Cascavel” está transformando percepções e vidas das mulheres envolvidas no processo, plateias de teatro e integrantes das forças policiais da região.
Sobre Sérgio Ferrara
Sérgio Ferrara integrou o CPT (Centro de Pesquisa Teatral), supervisionado pelo diretor Antunes Filho. Depois de deixar o grupo, dirigiu espetáculos como “Antígona”, de Sófocles, com o ator Paulo Autran, “Tarsila”, de Maria Adelaide Amaral, “Barrela” e “Abajur Lilás”, de Plínio Marcos, “Mãe Coragem e seus filhos”, de Brecht, com a atriz Maria Alice Vergueiro. Recebeu o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) de melhor diretor pelo espetáculo “Pobre Super-Homem”, de Brad Fraser. Com o ator Raul Cortez, realizou a peça “Fica Frio”, de Mário Bortolotto. No seu espetáculo “O Mercador de Veneza”, de Shakespeare, Luis Damasceno recebeu o Prêmio Shell de melhor ator. Em 2005, em parceria com o escritor Ignácio de Loyola Brandão e a artista plástica Maria Bonomi, realizou o espetáculo “A Última Viagem de Borges”, sobre o escritor argentino, indicado ao Prêmio Shell de melhor cenografia. Foi diretor convidado da EAD (Escola de Arte Dramática) da USP, onde dirigiu a peça “Vereda da Salvação”, de Jorge Andrade. Dirigiu “O Inimigo do Povo”, de Ibsen, em comemoração ao centenário de morte do dramaturgo norueguês. Com o Grupo SATYROS, desenvolveu um projeto sobre a Praça Roosevelt, onde dirigiu “A Noite do Aquário”, de Sérgio Roveri.
Convidado pelo diretor Antunes Filho, em 2007, dirige seu primeiro trabalho para a televisão. Em parceria com SescTV, a TV Cultura abre espaço para os novos teleteatros. Dirige “O Encontro das Águas”, repetindo a parceria com o dramaturgo Sérgio Roveri, premiado como o melhor dramaturgo do ano, pelo Prêmio Shell. Dirigiu, em 2008, “Imperador e Galileu”, de Ibsen, com o ator Caco Ciocler. Lecionou na PUC, no curso de teatro da universidade e, atualmente, é diretor de montagem da Escola de Atores Wolf Maya, em São Paulo. Também dirigiu “Dueto da solidão”, com Clara Carvalho e Leonardo Miggiorin; “Pororoca”, de Zen Salles; “O Casamento Suspeitoso”, de Ariano Suassuna (indicação de melhor diretor pelo Prêmio APCA) e “O eterno retorno”, de Samir Yazbek. De 2011 a 2017, foi curador artístico do Projeto Ademar Guerra, quando supervisionou e orientou 56 grupos de teatro do interior do estado. Em 2018, dirigiu “Risco”, do Balé da Cidade de São Paulo.
Sobre Carol Cezar
Carol Cezar é publicitária, atriz, produtora e cofundadora da empresa de treinamento comportamental Você InCena e da produtora Moira Produções Artísticas. No cinema, participou de curtas-metragens, sendo “Encantação”, com direção de Bruno Costa, e “Berenice”, com direção de Adriano Espínola, os mais recentes. Em São Paulo, atuou em diversas peças de teatro: “A Via Crucis do Corpo”, de Clarice Lispector com direção de Marco Antônio Bráz (2011); “O Despertar da Primavera”, de Frank Wedkind, com direção de Jair Assumpção (2012). No Rio de Janeiro, atuou em “As (piores) cenas da minha vida” (2012), “A mulher existe?” (2013) e “A hora perigosa”, de Clara Meirelles (2014), todas dirigidas por Daniel Herz, e “Viúva porém honesta” de Nelson Rodrigues, com direção de Giulia Grandis (2014). Na TV Globo, participou das novelas “Além do tempo·, “A regra do jogo·, “A Lei do Amor” (2017) e “Malhação – vidas brasileiras· (2018). Em 2017, estreou a peça “A Serpente”, dirigida por Eric Lenate, indicada ao Prêmio Shell na temporada de São Paulo. Em setembro de 2018, a peça reestreou no CCBB-RJ, também com indicação a prêmios. Em 2019, estreou a peça “Amor é Química”, de David França Mendes e Maria Clara Mattos, com direção de Oscar Francisco e Giulia Grandis, no Teatro Prudential.
Sobre Fernanda Heras
Fernanda Heras é atriz, bailarina, cofundadora da Moira Produções Artísticas. Como bailarina, participou e venceu festivais nacionais e internacionais de dança. Formou-se e foi bailarina do Teatro Municipal de São Paulo. No cinema, participou de curtas-metragens, sendo “Encantação”, com direção de Bruno Costa, e “Berenice”, com direção de Adriano Espínola, os mais recentes. Na TV Globo, integrou o elenco das novelas “Verdades Secretas”, de Walcyr Carrasco e com direção de Mauro Mendonça Filho (2015); programa de humor “Tomara que Caia”, com direção de Daniel Herz (2016); “Haja Coração”, de Daniel Ortiz e com direção de Teresa Lampreia (2016). Atuou em diversas peças de teatro: “Uma Espécie de Alaska”, de Harold Pinter, com direção de Brian Penido (2010); “Fragmentos do Interrogatório”, de Peter Weiss, com direção de Sérgio Ferrara (2011); “A Hora Perigosa”, de Clara Meirelles, com direção de Daniel Herz (2014); “A Serpente”, de Nelson Rodrigues, com direção de Eric Lenate e Erica Montanheiro (2017/2018, indicada ao Prêmio Shell na temporada de São Paulo. Em setembro de 2018, a peça reestreou no CCBB-RJ, também com indicação a prêmios); “Amor é Química” de David França Mendes e Maria Clara Mattos, com direção de Oscar Francisco e Giulia Grandis (2019).
Ficha Técnica:
Texto: Catrina McHugh
Tradução: Diego Teza
Direção: Sérgio Ferrara
Elenco: Carol Cezar e Fernanda Heras
Cenografia: Nello Marrese
Figurinos: Kleber Montanheiro
Iluminação: Adriana Ortiz
Programação Visual e Mídias Sociais: Maurício Tavares – Inova Brand
Assessoria de Imprensa: Rachel Almeida – Racca Comunicação
Produção: Letícia Napole e Júlio Luz
Fotografia e Assistente de direção: Enrique Espinosa
Cenotécnico: André Salles
Assistente de cenografia: Maria Estefânia
Gravação e edição: Zoe Filmes
Realização: Moira Produções Artísticas
Patrocinadores: Carelink, Bedois Consultoria e Corretora de Seguros, Norte a Sul, MXM Sistemas e Serviços de Informática e Top Down
Serviço:
Cascavel
Temporada: 29 de julho a 22 de agosto
Dias e horários: Diariamente, a qualquer horário. Na estreia, a partir das 19h30.
Ingressos: Gratuitos, com contribuição solidária a partir de R$ 10,00
Link: https://www.sympla.com.br/produtor/cascavel
Tempo de duração: 50 minutos
Classificação etária: 14 anos