Vida de naturista, aquele ser desinibido que anda como veio ao mundo em algumas praias do País, é menos fácil do que parece. Não bastasse o olhar repressor dos mortais cobertos de pano para o figurino Adão e Eva, esses adeptos do contato amplo, geral e irrestrito com a natureza enfrentam atitudes inconvenientes de curiosos e oportunistas. Para se proteger desses invasores, a turma, como é possível imaginar, até abre mão do lenço, mas quer exigir documento a todos que pretendam entrar nos espaços demarcados. Não o documento metafórico, mas um passaporte expedido pela federação internacional dos adeptos do movimento.
A carteira funcionaria como um atestado de bom comportamento. Para ter uma é preciso ser filiado a uma associação, fornecer identificação, foto e endereço, pagar R$ 12 por ano – e, condição indispensável, andar livre, leve e solto, mas na linha. Quem não seguir o código de ética do naturismo pode ter o passaporte cancelado e virar persona non grata nos recantos do mundo. Talvez seja uma medida necessária. Na praia de Abricó, no Rio de Janeiro, uma das nove reservadas à pratica no País, os mais inconvenientes são os praticantes de swing (troca de casais), de acordo com o diretor social da associação, Edson Lavos. “Eles fazem propostas desagradáveis e até oferecem dinheiro”, conta Lavos. Por isso, os nudistas aprovaram o slogan “swing e naturismo não combinam”. Muitos homens solteiros também criam embaraço nos ambientes familiares, onde as ereções não costumam ser bem vistas. “Não se pode impedir um garoto de 16 anos de ficar empolgado. Mas ele deve se acalmar, sentar no chão, mergulhar. Não pode é ficar andando para lá e para cá que nem cabide”, pondera Lavos.
Dias atrás, num congresso internacional em Abricó, 450 nudistas discutiram a necessidade do passaporte e também a de convencer o governo e os empresários a apostar no turismo do segmento, que em 2005 movimentou 8 bilhões de euros (R$ 22,8 bilhões) apenas na Europa. As operadoras estimam que o Brasil, com o naturismo mais desenvolvido da América Latina, possa atrair 40% desses turistas. Estima-se a existência de 600 milhões de naturistas no mundo. Como a maior parte está no Hemisfério Norte, muitos poderiam descer para o Sul no inverno. Os adeptos brasileiros lutam pela aprovação da lei do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que regulamenta a prática no País. A proposta estabelece regras para a prática e dá segurança jurídica aos investidores. “Ninguém vai fazer um hotel onde um prefeito pode gerar uma briga judicial”, explica o presidente da federação nacional, André Herdy. Percebe-se que todo cuidado – para todos – é pouco.
IÉ