É normal, em qualquer relacionamento, que as pessoas tenham curiosidade em saber como foram os antigos romances do par. Essas informações podem até ser úteis na maneira de conduzir o novo romance, já que as experiências amorosas nos ensinam o que não gostaríamos de repetir e o que pode ou não dar certo.
Só que, para muita gente, o passado sexual do parceiro costuma se transformar em uma espécie de sombra acompanhando (e atrapalhando) a convivência do casal. Ciúme, insegurança, medo e uma mania de comparação nociva são alguns dos sentimentos que entram em cena, mas que, segundo especialistas, não deveriam.
Segundo Oswaldo Martins Rodrigues Jr., terapeuta sexual e diretor do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade), é comum que homens e mulheres, ao iniciar um relacionamento, tendam a achar que um é dono do outro e que, portanto, precisam controlar a vida do parceiro.
"A sexualidade pertence à vida privada das pessoas, mas vários casais, quando se formam, não pensam assim. Como agora estão juntos, entendem que a vida sexual não deve ser mais privada ou particular, e, sim, algo que pertence a ambos. Incluindo o que houve no passado", comenta.
"O passado sexual do par pertence somente a ele ou a ela. Por ser algo tão íntimo, não deveria ser exposto. As pessoas devem aprender a manter alguns detalhes secretos e acessíveis somente a elas. Ninguém tem a obrigação de se ser um 'livro aberto' para o parceiro ou de cobrar informações sobre o que aconteceu ou deixou de acontecer", afirma a psicóloga especializada em sexualidade Juliana Bonetti Simão, de São Paulo.
Querer saber tudo o que o outro fez na cama –às vezes, em detalhes– antes de se envolverem é uma forma destrutiva de se relacionar. "A pessoa se engana com justificativas como curiosidade ou querer conhecer melhor ao outro sem reconhecer os próprios limites sobre o que fazer e como irá reagir diante do passado alheio", explica Oswaldo.
O especialista diz, ainda, que o sofrimento e a inquietação se desenvolvem, em diversos casos, a partir da percepção que a pessoa tem de si mesma, e não do que houve na vida do parceiro. Baixa autoestima, complexo de inferioridade, competitividade, possessividade e necessidade de controle são alguns dos fatores.
De acordo com a psicóloga clínica e terapeuta sexual Regina Celia Tournour Veríssimo, da capital paulista, é importante lembrar que a reação às revelações varia de pessoa para pessoa pois determinados princípios éticos, morais e religiosos ainda circulam no imaginário de cada um de nós.
"Quando o incômodo passa a comprometer o relacionamento, é importante que os parceiros dialoguem e entendam que, quando um casal se forma, cada um deles traz consigo uma bagagem", conta. "Assim, o incomodado terá que rever os seus conceitos, ter noção do que quer e espera do par, tentar aprender a lidar com a nova situação e não se deixar dominar pelo moralismo", completa Regina.
Heloísa Noronha
Do UOL, em São Paulo