Um “choque” na inflação. Segundo economistas e analistas de mercado ouvidos pelo G1, este deve ser o recado a ser dado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) ao fim da reunião sobre a taxa básica de juros brasileira – a Selic –, que começa nesta terça-feira (22).
A maioria dos analistas acredita que a taxa de juros deva aumentar em 0,75 ponto percentual, passando para 13% ao ano.
Apesar de alguns índices mostrarem um pequeno alívio na pressão inflacionária, o consenso do mercado, segundo a pesquisa Focus, divulgada nesta segunda-feira (21), é que a inflação oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vai ser superior a 6,5%, “teto” da meta do Banco Central (BC) para a inflação. O ideal, de acordo com o BC, seria que inflação ficasse perto do centro da meta, de 4,5%. E é nesse objetivo que a autoridade monetária mira em 2009.
O economista Miguel Daoud, diretor da empresa Global Financial Advisor, diz acreditar que a alta pode chegar até a 1% – uma vez que o governo não está disposto a cortar gastos para desestimular a economia. “Como no Brasil não se pode contar com a política fiscal para controle de inflação, e o governo vem estimulando a demanda, o risco é muito grande de a inflação fechar acima de 7% em 2009”, diz. “Se ela (a inflação) não for abortada agora, o BC não vai conseguir controlar a inflação em 2009.”
Às compras
Entre os que prevêem a alta de 0,75 ponto percentual, a conclusão é o BC não tem outra alternativa para controlar a alta dos preços. “Se você olhar os relatórios de mercado, vai ver que a economia do Brasil continua fortemente aquecida, com índice de ociosidade dos equipamentos cada vez maior e demanda crescendo. Como o BC não tem outro instrumento, deve usar os juros mesmo”, diz o economista Carlos Daniel Coradi, da empresas Engenheiros Financeiros e Consultores (EFC).
Coradi lembra que, na maior parte das vezes, o BC opta pela segurança. Como a inflação é um problema muito sério para o país – e, como mostram pesquisas, afeta mais fortemente a população de renda mais baixa –, a cautela deve mais uma vez prevalecer. “Entre um remédio mais forte com risco de lá na frente dar efeito desagradável e remédio um brando, mas que pode ser ineficaz, o BC vai optar pelo primeiro”, afirma o economista.
Outro que aposta no “remédio amargo” contra a inflação é Ricardo Humberto da Rocha, professor de mercados financeiros da escola de negócio Ibmec-SP. “Eu aguardaria uma alta de pelo menos 0,75 ponto. O que a gente nota como consumidor é que os preços e continuam subindo e a demanda está muito forte. Significa que o consumidor não está fazendo a sua parte ajudar a segurar o preço”, ressalta.
0,5 ponto percentual
A economista Marcela Prada, da consultoria Tendências, diz que “há dúvida” sobre a opção do BC por 0,5 ou 0,75 ponto percentual de aumento. Para a economista, entretanto, se a mais recente ata do Copom for levada em consideração, há mais chance de que o ritmo de aumento seja mantido, e que os juros subam 0,5 ponto. Apesar disso, ela lembra que não “há melhora clara no cenário de inflação”.
Já Thais Marzola Zara, economista da Rosenberg e Associados, afirma que uma redução superior a 0,5% teria um efeito psicológico, pois os efeitos da redução na taxa de juros agora só teriam efeitos concretos na economia no início do ano que vem. Para o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, haveria justificativas “para ir um pouco além” do meio ponto. Mas ele aposta no conservadorismo e na alta de 0,5 ponto da Selic.
G1