Se você tem mais de 40 anos, talvez não tenha entendido a grafia da frase acima. Mas é justamente com a linguagem típica dos adolescentes que a Prefeitura de São Paulo quer falar sobre a prevenção do HIV, vírus transmissor da Aids. A mudança no perfil da doença indica que essa parcela da população merece atenção diferenciada, especialmente o sexo feminino. Novos dados da Capital, que serão divulgados nesta sexta-feira, 30, mostram que no ano passado foi registrado o dobro de meninas infectadas pelo vírus entre 13 e 19 anos, em relação aos meninos nessa mesma faixa etária.
Para conter os riscos de contágio entre os mais jovens, a nova arma municipal é usar a tecnologia. Também nesta sexta, véspera do Dia Mundial de Combate à Aids, será inaugurado um posto de saúde totalmente diferente. O endereço é o mundo virtual do Second Life, ambiente que simula aspectos da vida real do ser humano no computador.
“É uma estratégia para atrair os mais novos. O jovem não quer ter palestra sobre o assunto, não quer ouvir um médico careta. Eles precisam de uma política que esteja inserida em sua cultura”, afirma Cristina Abbate, coordenadora do programa municipal de Aids.
O pacote de medidas preventivas para os adolescentes é composto ainda de peças de teatro sobre o tema, do lançamento de um livro com informações e relatos de meninos e meninas que convivem com a Aids, além de agentes de saúde bem diferentes dos tradicionais.
“Cara, eu falo para a galera que vem aqui no posto. Sabe, mano, a vida de quem contrai o vírus é muito complicada”, disse um desses agentes especiais, Anderson de Jesus Novais, 23 anos. “O pessoal vai para balada, enche a cara e transa sem camisinha. Costumo lembrar que o sexo sem proteção dura algumas horas. O HIV é para a vida inteira”, reforça Luiz Fernando de Oliveira Cruz, outro agentes de 23 anos. Anderson e Fernando trabalham no Plantão Jovem da Prefeitura, um grupo de profissionais entre 18 e 25 anos que atua apenas com adolescentes a questão da sexualidade.
Na semana passada, o boletim divulgado pelo Ministério da Saúde já havia chamado atenção para a incidência de Aids entre adolescentes. “É uma geração que nasceu depois do “boom” da epidemia. Eles não viram as pessoas morrendo”, aponta Antônio Carlos Egypto – coordenador do Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual -, como uma justificativa para o “relaxamento” do jovem na hora de pensar em preservativo.
Os novos dados municipais confirmam um certo controle da alta infecção pelo vírus HIV. O número de novos casos notificados de Aids na Capital caiu 30% entre 2005 e 2006, passando de 2.236 registros para 1.720 no ano passado.
Mas a queda é vista com cautela pelos especialistas, já que ainda não existe cura nem vacina para a doença. Ou seja, se as pessoas abandonarem o preservativo, a explosão de casos pode voltar a qualquer momento. “Não pode haver confusão. Ter um melhor tratamento para a doença não significa que hoje não há mais contágio pelo vírus”, reforça a coordenadora municipal Cristina Abbate.
Outro erro é acreditar que existe um grupo mais suscetível à doença. No início da epidemia, nos anos 80, a Aids estava associada ao universo de homossexuais e usuários de drogas. Os dados recentes do Município alertam que, entre as mulheres, a principal forma de exposição é a heterossexual. Em 2005, elas representavam 20% dos casos e, em 2006, a proporção chegou a 35,7% dos registros totais.
O posto de saúde no Second Life foi inaugurado nesta sexta, às 13 horas, na ilha Anhangabaú, que simula até os mesmos prédios da região de verdade. Nele, um agente vai trabalhar todos os dias e tirar dúvida sobre Aids e DST.
MetaNews
O Second Life ganhou versão brasileira em abril, distribuída no País pela Kaizen Games e pelo iG. Desde o final de junho, o Grupo Estado também edita o MetaNews no mundo virtual. Atualizado de forma dinâmica, traz notícias sobre o mundo virtual e dicas de lugares interessantes, eventos e agenda cultural.