O rebaixamento da nota de crédito soberano do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor's não deve ter grande impacto econômico imediato, já que era esperado por parte do mercado, mas aumenta a pressão sobre o governo para que melhore a gestão fiscal, dizem analistas consultados pela BBC Brasil.
"Acendeu o sinal amarelo", disse à BBC Brasil o analista Christopher Garman, diretor para mercados emergentes do Eurasia Group.
"O medo de perder o grau de investimento deve impactar na maneira como o governo gerencia sua política macroeconômica", afirmou.
Para o professor de economia Otto Nogami, do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, a decisão pega o Brasil em um momento crítico, de dependência elevada em relação ao capital estrangeiro e baixo desempenho da balança comercial no ano passado, que teve o pior saldo desde 2000.
"Agora, mais do que nunca, a pressão para que o governo ande na linha aumenta de maneira significativa, principalmente em ano eleitoral", disse Nogami à BBC Brasil.
De acordo com Garman, a grande dúvida é sobre o que vai acontecer após as eleições.
"A decisão da Standard & Poor's de rebaixar o Brasil antes da eleição acaba aumentando a probabilidade de que, depois do pleito, um eventual segundo governo de Dilma Rousseff venha a fazer um ajuste um pouco mais construtivo e amigável ao mercado", avaliou.
Críticas
As agências de classificação de risco já foram criticadas por não terem alertado sobre os riscos da crise econômica mundial, em 2008. Na época, elas atribuíram boas notas para operações de vendas de hipotecas imobiliárias nos EUA que acabaram afundando bancos e investidores.
Ao justificar a decisão de rebaixar, na segunda-feira (24), a nota do Brasil de BBB para BBB-, a menor classificação do grau de investimento, a Standard & Poor's disse que "os sinais enviados pelo governo quanto às suas políticas ainda não são claros, gerando implicações negativas para suas contas fiscais e para a credibilidade de sua política econômica".
"O rebaixamento reflete uma combinação de deterioração fiscal com a perspectiva de que a execução fiscal continuará fraca diante de um baixo crescimento nos próximos anos, além de uma capacidade reduzida para ajustar suas políticas antes das eleições presidenciais e do ligeiro enfraquecimento das contas externas do Brasil", afirmou a agência.
A perspectiva do ranking foi modificada de negativa para estável – indicativo de que não deve ocorrer um novo rebaixamento nos próximos meses e, segundo a Standard & Poor's, reflexo dos "pontos fortes das instituições brasileiras e do balanço do país tanto externo quanto interno, apesar da recente deterioração política".
A notícia não surpreendeu o mercado. Em junho do ano passado, a agência já havia sinalizado que poderia rebaixar a nota do Brasil, diante do aumento das despesas e do fraco crescimento.
Há duas semanas, representantes da Standard & Poor's vieram ao país coletar informações sobre a situação econômica e foram recebidos pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.
"Era de alguma maneira uma nota esperada por alguns analistas, exatamente pelo fato de alguns indicadores macroeconômicos terem se deteriorado nos últimos meses", afirmou Nogami.
Ao saber da decisão, porém, o Ministério da Fazenda divulgou nota oficial em que considera a redução "inconsistente com as condições da economia brasileira" e "contraditória com a solidez e os fundamentos do país".
Investidores
O grau de investimento significa que um país é seguro para investidores e considerado bom pagador de seus compromissos. O Brasil conquistou o grau de investimento em 2008. No final de 2011, a Standard & Poor's subiu a classificação do país de BBB- para BBB, um degrau acima dentro do grau de investimento.
As agências Fitch e Moody's também conferiram ao Brasil o grau de investimento.
Agora, com a nota BBB-, o país está no limite. Isso porque um novo rebaixamento significaria a perda desse grau na avaliação da Standard & Poor's. Uma eventual perda do grau de investimento traria diversos impactos negativos à economia brasileira, como maior custo de captação de recursos, depreciação do câmbio, redução do fluxo de investimentos e dificuldades para controlar a inflação.
Mas analistas afirmam que não há sinalização de que as agências pretendam retirar essa classificação do Brasil no curto prazo.
"A Moody's está dando sinais de que não deve rebaixar a nota. O mesmo [ocorre] com a Fitch", observou Garman.
"No curto prazo, acho que o governo não vai fazer grandes mudanças a respeito desse rebaixamento, porque sabe que não vai perder o grau de investimento antes da eleição", afirmou.
BBCG1