Engraçado, mesmo os mais prejudicados com o vazamento do que Paulo Roberto Costa teria declarado à Polícia Federal estão discutindo e rebatendo as informações imprecisas que a imprensa publica, ao invés de adotarem a única posição correta num caso desses: exigirem que as autoridades apurem as ilicitudes mediante as quais um depoimento resguardado por segredo de Justiça inundou o noticiário, negando-se a comentar acusações das quais nenhum deles tomou conhecimento por vias confiáveis (as possibilidades de manipulação saltam aos olhos!).
É lamentável que uma prática que infringe a lei tenha se tornado habitual e não seja contestada sequer por suas vítimas. Estas raciocinam da seguinte maneira: “Se eu não refutar a(s) acusação(ões), os eleitores vão concluir que é tudo verdade. Então, tenho de dizer qualquer coisa”. E, com isto, coonestam essas armações ilimitadas da Veja & cia.
Há muita disparidade entre o que cada veículo importante coloca na boca do diretor da Petrobrás, tipo quantos e quem ele teria dedado, qual a gravidade das imputações em cada caso, etc. Manifestar-se no escuro é pedir para falar bobagem e depois cair no ridículo. Nossos políticos são uns pobres diabos, firmes como geleia.
De algo, contudo, podemos ter certeza: Costa está depondo e as tais 42 horas de gravação existem. Como as coisas chegaram a este ponto?
Minha impressão é de que os petistas, para garantirem a malfadada governabilidade da maneira mais fácil (poderiam, ao invés de comprarem apoios, afrontarem corajosamente a tradicional podridão da política brasileira, pois é isto que o povo deles esperava), servem-se de personagens escusos, que intimamente desprezam, como Marcos Valério e Costa.
Quando a m… fede, tratam de salvar os seus, aqueles que se emporcalharam pela causa, e deixam que os movidos pela ganância se danem.
Evidentemente, os comparsas desprezados não apreciam ser tratados dessa forma. Valério refugou demais e deixou passar o momento exato de obter favores da Justiça em troca de dar o serviço. Costa percebeu que seria igualmente abandonado à própria sorte (talvez seja melhor dizer azar, pois o esperava uma cana braba!), então não hesitou: vendeu sua mercadoria no momento em que havia mais compradores interessados. Nada bobo.
Mesmo que o escândalo respingue um pouco no falecido Eduardo Campos e no PSB, é insuficiente para derrubar Marina Silva, a menos que surja alguma acusação específica contra ela. Já Dilma Rousseff, evidentemente próxima do escândalo (chegou a ser ministra das Minas e Energia, continuou sempre interessada nos assuntos da Petrobrás e presidiu seu Conselho de Administração) vai ser alvejada a torto e a direito, provável pá de cal numa candidatura já combalida.
Torço para que os grãos petistas enxerguem o óbvio: insistirem com Dilma será suicídio, enquanto que o carisma de Lula poderá, talvez, evitar a derrota anunciada. Ou convencem a criatura a renunciar para o criador assumir e tentar salvar a pátria, ou podem começar desde já a empacotar os pertences, pois tudo leva a crer que o Palácio do Planalto estará sob nova direção a partir de janeiro.
Ignoro se o Lula quererá mesmo estar à frente do governo, responsabilizando-se por decisões impopulares, durante a aguda crise econômica que despencará sobre nós em 2015 e sabe-se lá até quando vai durar. Mas, para a democracia brasileira, será melhor se o PT tentar a sorte com o que tem de melhor. Aí saberemos inequivocamente se o povo ainda quer Lula, ou está preferindo trilhar um novo caminho; se é o PT que está sendo repudiado, ou apenas Dilma.
Para pilotar a nave Brasil durante os tempos bicudos da recessão, precisaremos de um comandante que seja capaz de inspirar as massas, mantendo viva a esperança em dias melhores: ou o Lula pai dos pobres voltando nos braços do povo, ou a santa Marina dos seringueiros (sem a sombra do Lula, pois o teria derrotado na eleição). Daí meus sinceros votos de que o tira-teima entre os únicos ícones restantes aconteça no mês que vem.
Não consigo imaginar uma Dilma Rousseff ou um Aécio neves pedindo aos brasileiros “sangue, suor, trabalho e lágrimas”, sem provocar uma explosão de gargalhadas ou uma enxurrada de palavrões.
* Jornalista, escritor e ex-preso político. Mantém o blog Náufrago da Utopia. CONGRESSO EM FOCO