Pioneiros relembram dissabores e conquistas na história recente da região que responde hoje por 20% da pujança agrícola de MT
Promessa de terra barata e fértil e a possibilidade de construir patrimônio sobre seu pedaço de chão foram os principais motivadores da migração de sulistas rumo a Campo Novo do Parecis na década de 1970. Ouvindo os pioneiros que investiram na agropecuária do chamado Chapadão do Parecis, é impossível não observar como são otimistas – uma qualidade necessária para quem aceitou o desafio de fazer a vida a partir do zero, literalmente.
“Cheguei em 1976 e no início a família ficou em Tangará da Serra. Trabalhei com construção de casas, emprestei por alguns anos máquinas do vizinho e pouco a pouco fui evoluindo. Hoje, nossa área soma 7 mil hectares e criamos gado, plantamos cana-de-açúcar, soja e milho”, lembra Wilson Walter Heidemann, de 88 anos. Nascido em Santo Ângelo das Missões (RS), Walter já conta com a segunda geração – seus quatro filhos – na lida da propriedade.
Adão Jacobowski, de 77 anos, se empolgou quando viu o Chapadão pela primeira vez. “Era novo, me animei com aquele monte de terra plana! Consegui uma posse e comecei trabalhando com gado a pasto. Hoje, estamos bem mais diversificados”, afirma o produtor. Contando com a presença dos três filhos na gestão rural, Adão hoje planta soja, algodão, milho, arroz, feijão, sorgo e girassol, e se orgulha do rebanho com 30 mil cabeças. “Já temos também uma algodoeira”.
Mas não foi fácil. “Se hoje achamos demorado chegar à capital, naquela época cheguei a ficar três dias atolado tentando fazer o caminho de Campo Novo do Parecis a Tangará da Serra”, rememora.
João Francisco Dalepiane, de 66 anos, conta que na década de 1980, quando chegou, encontrou vários conterrâneos em situação de miséria. “Eu mesmo cheguei a vender uma fazenda para conseguir honrar o financiamento com o Banco do Brasil”, diz. Carlos Simão Introvini, 82 anos, ajudou na fundação da Cooprodia (Cooperativa de Produtores de Cana-de-Açúcar de Diamantino) e hoje cultiva soja, algodão e milho na propriedade de 6,2 mil hectares. Mas passou por maus bocados até chegar lá.
“Tentei levar uma criança doente ao hospital mais próximo, mas ela faleceu no meu carro, e isso marca qualquer um. Eram tempos difíceis. Quantas vezes não dormi com a esposa atolados na estrada? Perdi irmão e um filho com acidente na estrada”, recorda.
Se a logística precária e a ausência de serviços essenciais, como saúde e educação, corroíam o otimismo dos pioneiros, a ciência acabou sendo o catalisador da grande mudança. “Vi o quanto a Lei Kandir ajudou a desenvolver o agronegócio mato-grossense, principalmente a soja. Mas a revolução mesmo foi a tecnologia. Quando a Fundação MT e a Embrapa chegaram, tudo mudou, porque a partir daí o produtor rural passou a ter mais conhecimento”, destaca Dalepiane, que hoje atua no comércio agropecuário.
A importância das pesquisas científicas é um ponto consensual entre os pioneiros. “Sem assistência técnica, sem divulgação sobre formas e opções diferentes de plantio e insumos, não haveria toda essa produção e essa diversidade aqui”, reitera Introvini. “Nossa principal forma de acesso à informação se tornou a Parecis SuperAgro, porque passou a nos dar mais e mais informações qualificadas”, observa Heidemann.
Realizada de 9 a 12 de abril em Campo Novo do Parecis, a Parecis SuperAgro é considerada a maior feira de negócios e inovação de Mato Grosso no segmento agropecuário. Seu perfil, voltado para networking, intercâmbio de informações técnicas e realização de negócios, reforça a vocação econômica da região do Chapadão do Parecis, que atualmente responde por 20% da produção mato-grossense de soja e por 23,5% da produção de milho.
Os números são do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), referentes a 2017, e consideram os municípios de Brasnorte, Comodoro, Nova Maringá, Nova Marilândia, São José do Rio Claro, Diamantino, Sapezal, Campo Novo do Parecis e Campos de Júlio. Juntos, somam uma área agricultável de 3,13 milhões de hectares considerando as culturas de soja, milho e algodão.
Saiba mais
A Parecis SuperAgro 2019 é realizada pelo Sindicato Rural de Campo Novo do Parecis e patrocinada pela Aprosoja-MT, Senar-MT, Áster e Syngenta. Tem apoio da Prefeitura, da Câmara de Vereadores e da Acrimat e a previsão de público é de 20 mil pessoas nos quatro dias da feira – 9 a 12 de abril. A entrada é gratuita.