Tropas da Otan (aliança militar liderada pelos EUA) fecharam as fronteiras do norte de Kosovo depois que um grupo de sérvios contrários à independência da província destruiu dois postos de controle na fronteira com a Sérvia. Centenas de manifestantes incendiaram os postos em Jarinje e Banja, supervisionados pela ONU e pela polícia de Kosovo.
O fechamento das fronteiras deve enfurecer o governo da Sérvia e a população sérvia de Kosovo, que vive predominantemente perto da fronteira, segundo o correspondente da BBC em Kosovo, Nick Thorpe.
A Otan afirma que o fechamento deverá durar, inicialmente, apenas 24 horas. Kosovo declarou a sua independência da Sérvia no domingo. Sérvia e Rússia, no entanto, não reconhecem o novo status do que consideram ser ainda uma província sérvia.
Retroescavadeiras e explosivos
Os manifestantes chegaram à fronteira na terça-feira em comboios de carros e ônibus no que, segundo o correspondente da BBC, pareceu ser uma ação cuidadosamente planejada e coordenada.
A polícia de Kosovo e os funcionários de alfândega da ONU foram obrigados a se retirar para um túnel, nas redondezas, enquanto a multidão usava escavadeiras e explosivos para demolir os postos, de acordo com relatos de testemunhas.
As forças da Otan foram chamadas ao local e tropas de Estados Unidos, França e Estônia selaram as duas passagens na fronteira.
O ministro sérvio para Kosovo, Slobodan Samardzic, disse que seu governo pretende assumir o controle dos postos e estabelecer o que ele chamou de total autoridade do Estado sérvio.
Protestos
Estudantes na cidade de Mitrovica, de maioria sérvia, têm organizado protestos diários às 12h44, hora local, em alusão à resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU, na qual a Sérvia insiste ter soberania sobre Kosovo.
Em Pristina, o diplomata holandês Pieter Feith começou a desempenhar seu papel como representante especial da União Européia para o Kosovo.
Feith – que vai chefiar o escritório civil internacional que deverá assumir as funções hoje ocupadas pela ONU – insiste que a missão da UE será implementada em todo Kosovo, apesar da hostilidade sérvia.
“Nós precisamos alcançar as comunidades sérvias aqui em Kosovo e estamos, claro, em contato com Belgrado”, disse ele.
A UE planeja enviar uma missão composta por 2 mil oficiais de justiça e polícia a Kosovo nos próximos meses. “Separatismo encorajado” A Rússia disse considerar a missão “ilegal” e criticou duramente o papel do bloco europeu em Kosovo. O porta-voz do Ministério do Exterior Mikhail Kamynin disse que ao perseguir “um cenário unilateral” para solucionar o problema de Kosovo, a União Européia “encoraja separatismo no mundo”.
O porta-voz se pronunciou depois que o alto representante da UE para política externa, Javier Solana, visitou Kosovo.
Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, França, Itália e Alemanha já reconheceram o novo Estado, mas outros países não o fizeram. O Conselho de Segurança da ONU está dividido sobre como responder ao anúncio de Kosovo, e ainda não chegou a um acordo sobre nenhuma ação.
Membro permanente do Conselho, a China condenou a ação “unilateral”, com o argumento de que ela pode ter uma influência seriamente negativa na região dos Bálcãs.
A China e outros países que enfrentam pressões separatistas – como a Espanha, que também apoiou a Sérvia – parecem temer que o exemplo de Kosovo inspire ações semelhantes dentro do seu próprio território.
Diante da polêmica, a União Européia deixou a decisão a critério dos seus países-membros.
Embaixadores chamados
Na segunda-feira, o parlamento sérvio aprovou uma resolução condenando a declaração de independência de Kosovo.
A resolução também anula formalmente os atos do governo de Pristina, afirmando que a soberania da Sérvia sobre Kosovo está garantida pelas leis internacionais.
Em outra ação, o governo chamou de volta seus embaixadores nos Estados Unidos, França e Turquia porque esses países reconheceram a independência.
A UE tentou apaziguar as diferenças sobre o reconhecimento de Kosovo no início da semana, ressaltando que o caso não abre precedência para outros movimentos separatistas.
A Espanha e outros países membros não reconheceram a declaração por preocupação com movimentos separatistas em seus próprios territórios.
As forças de segurança sérvias foram expulsas de Kosovo em 1999, depois de uma campanha militar da Otan para acabar com a violência contra os separatistas de origem albanesa.
Desde então, a província está sob administração da ONU e proteção da Otan.