domingo, 22/12/2024
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Os perigos de substituir o Dólar

Doron Tsur é executivo do “Compass Mutual Fund”, empresa americana de investimentos, e um texto publicado no “Haaretz”, diário israelense conceituado, no qual levanta a hipótese de um ataque ao dólar. O titulo é “Guerra Econômica à frente. Urge aprender a lição de Pearl Harbour”.

Pearl Harbour, para os jovens, é nome de uma baía onde estava atracada toda a frota americana do Pacífico. Era dezembro de 1941. A frota japonesa e seus aviões pilotados por kamikases, pilotos treinados para o suicídio, atacaram, pegaram a frota e a tropa de surpresa, conquistaram uma grande vitória, e no mesmo dia começou a derrota nipônica.

Conta-se que Yamamoto, almirante e grande chefe militar japonês, autor do plano do ataque, resmungava enquanto outros comemoravam: “temo que nada mais fizemos do que acordar um gigante”. Meio ano depois os americanos haviam acumulado uma frota que imporia derrota decisiva à frota japonesa na batalha de Midway. E com tecnologia superior e inabalável determinação, os americanos produziriam as primeiras bombas atômicas, que seriam lançadas sobre Nagazaki e Hiroshima. Era 1945. O Japão foi derrotado.

Tsur escreve que na reunião dos países do chamado BRIC (Brasil, Índia, China e Rússia), realizada na semana passada, discutiu-se a hipótese de criarem nova moeda internacional como alternativa ao dólar e moeda de reserva. Também falaram de investirem suas reservas uns nas moedas dos outros. Eles aplicariam seus excedentes em papéis do Tesouro uns dos outros. Nada se resolveu, mas ficou a ideia.

Os excedentes tem sido aplicados em papéis da dívida americana. Na moeda de país de absoluta estabilidade política. Daí o dólar como moeda de reserva e trocas. Os Estados Unidos gozaram da economia mais produtiva do mundo no pós-guerra. Até finais dos anos 1960 eram auto-suficientes em tudo. Países ideologicamente inimigos começaram a mudar sua absoluta ênfase sobre se armarem. Entenderam que o melhor seria aplicarem no desenvolvimento e aos poucos fizeram crescer seu sistema produtivo.

Tinham a vantagem de custos baixíssimos. Os americanos, viciados em consumir, passaram de maiores exportadores a maiores importadores de tudo. De maiores credores, passaram a maiores devedores. E os credores preferiam aplicar seus excedentes, as reservas, em dólar, que ficou sendo a moeda internacional de reserva. Os Estados Unidos, país politicamente estável, não tem histórico de caloteiro.

Explicando: há anos que os americanos são os maiores importadores de produtos finalizados. Parte dos dólares a mais, dos superávits, aplicam os grandes exportadores em matérias primas da Rússia ou Brasil. O que resta aplicam em dólar. Há muito que o alto consumo americano é sustentado pelo endividamento.

Precipitada a crise, e para salvar a economia americana e mundial, o governo de Washington anda imprimindo bilhões e assumindo endividamento assustador. Daí a conversa de reduzir a dependência do dólar como moeda de reserva: receio de suas reservas se desvalorizarem, do dólar perder em valor relativo..

O chefão do “Compass Mutual Fund” escreveu que não é para já. No fim das contas, quem controla o caixa controla os meios de pagamento. Então, lembra ele, se os credores decidirem que tem dólar demais e quiserem outra moeda, estarão cometendo grave erro. Se não tivesse havido falta de seriedade ou inteligência, não teria acontecido a crise, alega-se. E, apesar da crise, os americanos vivem melhor do que outros povos.

Claro, quem sabe pensar logo compreende que, se quiserem mudar o caixa, os Estados Unidos terão de reduzir ainda mais drasticamente suas importações. Então, os países que invadiram o mundo com os seus produtos irresistivelmente mais baratos ficarão engasgados. Brasileiros e russos somados não chegam nem perto do consumo americano. Milhoes de chineses perderão seus empregos. Brasil e Rússia ficarão com suas exportações reduzidas por falta de mercado.

Lembra o autor do texto original que Yamamoto sabia que não podia derrotar os americanos, mas cumpriu ordens superiores. Não falta no mundo de hoje quem faça seus cálculos segundo ideologias. Quem pode garantir que o BRIC não leve adiante a ideia da moeda alternativa (há dias lembrei que o presidente do Banco Central chinês falou de nova moeda)?

Nos Estados Unidos, escreveu Tsur, existe espaço para reduzir padrão de vida, sobreviver com recursos próprios. Mas eles precisam estarem atentos. Um Pearl Harbour econômico não é impossível. Não faltam supostos líderes com suficiente ignorância e preconceitos para tentar. E, no máximo, só acordarão o gigante.

Nahum Sirotsky/U.Seg

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Parmenas Alt
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