O Movimento 6 de Abril, o grupo de oposição que iniciou os protestos populares do Egito, convocou para esta terça-feira manifestações maciças e espera reunir 1 milhão de pessoas exatamente uma semana após o início dos protestos pela queda de Hosni Mubarak, no poder há 30 anos.
Outro grupo opositor, Irmandade Muçulmana rejeitaram nesta segunda-feira manter qualquer diálogo com o novo primeiro-ministro Ahmed Shafiq, e criticou Mubarak por ter proposto a conversa na véspera.
“Queremos fazer com que seja como um carnaval, com músicas, poesias e espetáculos, tudo centrado em pedir a renúncia de Hosni Mubarak”, disse o porta-voz do Movimento 6 de Abril, que pediu anonimato.
O Movimento 6 de Abril é o principal grupo por trás dos protestos públicos contra o regime do presidente Mubarak e conta com o apoio dos Irmãos Muçulmanos e da plataforma política liderada pelo Nobel da Paz e reformista Mohamed ElBaradei.
A concentração desta terça-feira está programada para às 12h (8h de Brasília) na praça Tahrir, epicentro dos protestos, mas não descartam que haja outros locais com concentrações de egípcios contra o governo ditatorial.
Na semana passada, o grupo contou principalmente com a internet e as redes sociais para divulgar as manifestações. Mas com a censura à rede imposta pelo governo, há dúvidas de como a notícia correrá pelo país.
O Movimento 6 de Abril e os outros grupos de jovens que apoiam esta organização realizarão nas próximas horas uma reunião para preparar os atos desta terça-feira e redigir um comunicado que será distribuído na praça Tahrir. A praça está sob forte proteção do Exército, que tenta impedir aglomerações.
O porta-voz do grupo desmentiu relatos de uma greve geral para esta segunda-feira, como divulgaram alguns meios de comunicação, e assinalou que esse pedido está vigente desde o início dos protestos populares, na terça-feira passada.
A rotina no Egito foi prejudicada tanto pelos protestos quanto pelo toque de recolher imposto na sexta-feira à noite e estendido neste fim de semana das 15h (11h de Brasília) às 8h (4h de Brasília).
DIÁLOGO
Um dos líderes da Irmandade Muçulmana, Mahmoud Ghazali, afirmou à agência de notícias Efe que o vice-presidente Omar Suleiman e o premiê Shafiq “são os pilares do regime e participou de sua injustiça e corrupção, e suas mãos nunca se reforma ou a democracia”. O grupo, considerado o maior de oposição, quer formar um Estado islâmico no Egito.
Na noite passada, Mubarak instruiu Shafiq, o primeiro-ministro empossado no último sábado, a iniciar um diálogo com a oposição para promover a democracia no país, informou a televisão pública.
“Nós só queremos falar com o Exército, o único no qual as pessoas confiam, para chegar a um acordo sobre a transferência de poder de forma pacífica”, disse Ghazali, acrescentando que a proposta de Mubarak “vem muito tarde”.
“O povo rejeitou todos esses rostos de Mubarak, Suleiman e Shafiq”, disse.
O líder da Irmandade insistiu que o único pedido do povo continua a derrubada do regime. Ele alertou que, se Mubarak não deixar o cargo, os cidadãos continuarão nas ruas para derrubá-lo.
A oposição egípcia anunciou neste domingo a criação de uma comissão que inclui, entre outros grupos, a Irmandade Muçulmana e a Assembleia Nacional para a Mudança, liderada por ElBaradei, com a missão de se aproximar dos militares e criar pontes de comunicação.
POLÍCIA
Apesar da convocação, Cairo parece voltar um pouco à rotina nesta segunda-feira. A polícia egípcia voltou nesta segunda-feira a sair às ruas em alguns bairros da capital que tinha deixado na sexta-feira passada (28) –quando deu lugar ao Exército.
Na praça de Al Gala, no bairro de Dokki, junto ao centro da capital e que foi nos últimos dias palco contínuo de manifestações, os policiais voltaram a seus postos para organizar o trânsito e a área recuperou a normalidade.
Em outros bairros como o famoso de Zamalek, onde se encontram muitas embaixadas, se pôde ver apenas um policial na entrada desta egião, onde os próprios cidadãos se encarregavam nos últimos dias de proteger os prédios, como aconteceu em diferentes pontos do país.
Na ponte 6 de Outubro, que se estende de leste a oeste do Cairo, alguns veículos da Polícia que foram incendiados durante os protestos, que começaram na terça-feira passada, tinham sido retirados e já não estavam mais lá.
A polícia egípcia recebeu ordens de se desdobrar de novo nas ruas após deixá-las na sexta-feira passada pela noite, depois que se declarou o toque de recolher, o que suscitou uma onda de atos de pilhagem por todo o país.
Além disso, milhares de presos fugiram de várias prisões do país, e muitos deles agiram nas pilhagens. Segundo as autoridades, até a noite deste domingo tinham sido detidas cerca de 3.000 pessoas, acusadas de participar destas ações.
F.COM/C.AG INTER