O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas convocou uma reunião emergencial para discutir o conflito em Mianmá, onde o regime militar que administra o país intensificou a repressão aos protestos por sua retirada liderados por monges. Segundo o governo, pelo menos 10 pessoas foram mortas.
Os cybercafés de Mianmá amanheceram fechados nesta sexta-feira, 28, por ordem das autoridades militares, que pretendem impedir que qualquer informação sobre a repressão exercida contra os protestos seja enviada ao exterior.
Fontes da dissidência informaram que na noite de quinta-feira, o governo cortou o serviço dos provedores de internet do país. Além disso, a Junta Militar interrompeu o serviço de ligações telefônicas para o exterior a partir do meio-dia, horário em que começam as manifestações.
O uso da violência contra os monges budistas e a população que exigem a retirada do regime ditatorial do poder começou na quarta-feira. O secretário-geral da ONU, Ban-Ki Moon, despachou Ibrahim Gambari, enviado especial para o sudeste asiático, com a esperança de que o conflito na região seja solucionado
Segundo a BBC, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, relator especial da ONU sobre a situação de direitos humanos em Mianmá, alertou nesta quinta-feira que, se a comunidade internacional não atuar imediatamente em Mianmar, poderá haver “um banho de sangue” no país asiático.
Pinheiro disse ainda à Associated Press que “a comunidade internacional será responsável pelo que acontecer em Mianmá”.
A repressão às manifestações no país de 56 milhões de habitantes começou na quarta, quando as forças do governo usaram gás lacrimogêneo e cassetetes para dispersar os manifestantes. Cerca de 200 monges foram presos. Até o mês passado, aconteceram apenas passeatas esporádicas contra o aumento do preço dos combustíveis, mas desde então elas cresceram e se tornaram grandes manifestações populares contra os 45 anos de regime militar na antiga Birmânia, ecoando a rebelião de monges e estudantes em 1988.
Influência chinesa
As grandes potências e os países da região, em especial a China (que tem grande influência sobre Mianmá), deveriam lidar com a situação com urgência, avalia o brasileiro.
“A China já tem expressado para as autoridades de Mianmá a necessidade de elas não lidarem dessa maneira com os protestos e caminharem na direção de um processo de transição. Espero que a Rússia também venha a colaborar.”
A China e a Rússia adotam a posição de que os problemas em Mianmá são questões internas do país e vetaram, em janeiro, uma resolução da ONU que criticava o governo militar birmanês.
O primeiro-ministro do japão, Yasuo Fukuda, pediu ao seu colega chinês, Wen Jiabao, que “exerça sua influência” sobre Mianmar para resolver a crise no país, informou a agência japonesa Kyodo. Um repórter japonês morreu na quinta durante os protestos contra a Junta Militar birmanesa, acertado pelos tiros de soldados que dispersavam os manifestantes.
Os Estados Unidos e a União Européia já decretaram diversas sanções contra o regime militar de Mianmá. No entanto, paradoxalmente, isso significa que esses países têm relativamente poucas cartas na manga para influenciar a junta militar que governa o país.