A cúpula da ONU alerta que a crise política no Brasil pode ter um impacto internacional e, pela primeira vez, apela para que os líderes nacionais atuem para solucionar o impasse que vive o país. O secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, indicou que a instabilidade no país entrou no radar da entidade e pediu uma reação "harmoniosa" diante da crise.
"Por enquanto, esse é um problema político doméstico. Mas o Brasil é um país muito importante e qualquer instabilidade política no Brasil é uma preocupação social para nós", disse Ban, em Genebra.
O coreano fez um apelo, o primeiro em relação ao Brasil em quase dez anos de seu comando da ONU e uma atitude rara nos contatos das Nações Unidas com o país. "Peço que os líderes adotem soluções harmoniosas e tranquilas", declarou. Sei que é um desafio que o país vive. Mas acho que vão conseguir superar", disse.
Na entidade, o recado é tanto para o governo como para a oposição. Há apenas uma semana, a ONU rompeu seu silêncio e alertou para a crise brasileira. Em um apelo tanto aos atuais ocupantes do governo federal como aos demais partidos políticos, a Organização das Nações Unidas disse esperar que os agentes públicos brasileiros "cooperem totalmente" com as autoridades judiciárias nas investigações sobre "suposta corrupção de alto nível, para evitar quaisquer ações que possam ser vistas como um meio de obstruir a Justiça". Mas também lembrou que o Judiciário deve atuar com "escrúpulos, dentro das regras do direito doméstico e internacional, evitando adotar posições político-partidárias."
"Estamos preocupados com a possibilidade de que um círculo vicioso possa estar sendo desenvolvido que acabe afetando a credibilidade tanto do Executivo como do Judiciário", disse Rupert Colville, porta-voz da ONU.
Nesse inédito posicionamento da organização sobre a crise política brasileira, a entidade faz cobranças a todos os agentes protagonistas da atual situação ao se dizer "preocupada com os debates cada vez mais politizados e acalorados" registrados nas últimas semanas no país. Para o Alto Comissariado, essa situação ameaça causar "um sério dano de longo prazo para o Estado e para as conquistas democráticas feitas nos últimos 20 anos nos quais o Brasil tem sido governado sob uma Constituição que dá fortes garantias de direitos humanos".
Estadão/Veja