domingo, 22/12/2024
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Olivier Rolin: ‘Tigre de papel’

O romance “Tigre de papel” (Cosac Naify, tradução de José Bento Ferreira, 286 páginas, preço a definir), que chegará às livrarias no fim deste mês, é o passaporte do escritor e editor francês Olivier Rolin para a Festa Literária Internacional de Parati – onde ele estará dia 11 de agosto, ao lado do peruano Alonso Cueto e do gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil, na mesa “Prosa, política e história”. Trata-se de um belo passaporte. Estruturado como uma caudalosa falação de Martin, que foi militante maoísta na Paris de 1968, para a filha de Treize, um correligionário já morto, “Tigre de papel” é o acerto de contas de Rolin, nascido em 1947, com seu próprio passado politicamente ativo naquele tempo e lugar – ambos lendários. É também uma tentativa de traduzir as motivações da geração 68 para a jovem que o escuta e, com intervenções esparsas mas precisas, ajuda a evitar que o relato descambe para o puro saudosismo melancólico. Se este resumo apressado deu a entender que “Tigre de papel” é um romance pesado, denso, cabeçudo – ou seja, “francês” no mau sentido –, esqueça o resumo. Ambicioso, o livro tem uma verborragia atropelada e suja que o situa bem longe da estante de leituras ligeiras, mas é muito divertido. Lançado com grande repercussão na França em 2002 e finalista do prêmio Goncourt (que não ganhou), evita qualquer traço de chatice com lucidez e humor. Como diz Fernando Gabeira na orelha, “o narrador de ‘Tigre de papel’ critica o presente que nos envolve sem deixar de revelar com precisão o desvario dos construtores da História e, com especial humor, as relações com os burocratas chineses”. O trecho abaixo tem um pouco de cada uma dessas qualidades:

O Angelo na época estava em hypokhâgne(1), você explica à filha do Treize, ele era o líder dos secundaristas da Causa. Com sua tropa, ele interrompia os professores com gozações ou imprecações, conforme o estado de espírito, passeavam pelados pelos corredores, escondiam bichos fedorentos nas salas de administração, respondiam com bombas caseiras às observações dos supervisores, organizavam, nos dias de sol, verdadeiros banhos nos tanques do pátio interno, convidavam piranhas para as aulas de filosofia, criaram numa sala de aula uma “prisão do povo” onde pretendiam encarcerar supostos fascistas – em resumo, se divertiam pra valer. Instituíram um concurso de novos coquetéis, com júri presidido pelo Nessim. Era o que se chamava de “revolta anti-autoritária”. E quem são esses caras, Angelo, Nessim?, pergunta a filha do Treize. Você não sabe contar uma história, mistura tudo. Pelo contrário, mocinha, o imbróglio faz parte da história. O Angelo e o Nessim e todos os outros, a gente chega lá. Só falta dar mais algumas voltinhas. Os professores daquela época não estavam acostumados com essas diatribes, alguns deles tiveram ataques cardíacos. Depois com certeza ficaram mais durões. Aperfeiçoamento da espécie.

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Parmenas Alt
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A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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