quinta-feira, 21/11/2024
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Odebrecht ratifica ter pago R$ 50 milhões em propinas para a campanha de Dilma

Ao TSE, Marcelo Odebrecht ratifica ter pago R$ 50 milh&otildees em propinas para a campanha de Dilma, conforme antecipou ISTO&Eacute, diz que a ex-presidente sabia dos acertos esp&uacuterios e que, inclusive, indicou o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, para intermediar os repasses

Marcelo Odebrecht ficou frente a frente com autoridades do Tribunal Superior Eleitoral. Em depoimento de quatro horas de dura&ccedil&atildeo realizado em Curitiba, o empres&aacuterio, herdeiro da maior empreiteira do Pa&iacutes, discorreu sobre as doa&ccedil&otildees de campanha e a rela&ccedil&atildeo quase umbilical da empresa, e dele pr&oacuteprio, com partidos e pol&iacuteticos de alt&iacutessimo calibre. Suas revela&ccedil&otildees envolveram um leque de personalidades pol&iacuteticas, mas principalmente a ex-presidente Dilma Rousseff. Ao ministro Herman Benjamin, Odebrecht foi taxativo. Afirmou que pagou R$ 50 milh&otildees em propinas para a campanha de Dilma como contrapartida &agrave vota&ccedil&atildeo de uma medida provis&oacuteria que beneficiou a Braskem, petroqu&iacutemica controlada pela Odebrecht, disse que a ex-presidente petista tinha total conhecimento dos pagamentos de caixa dois, inclusive no exterior, e ratificou ter sido ela quem indicou o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, como intermedi&aacuterio dos acertos esp&uacuterios, em substitui&ccedil&atildeo ao tamb&eacutem ex-auxiliar Antonio Palocci. Embora de car&aacuteter irrefut&aacutevel, e obviamente grav&iacutessimo, o conte&uacutedo do depoimento de Odebrecht ao TSE n&atildeo constitui uma novidade para o leitor de ISTO&Eacute. Em reportagem de capa sob o t&iacutetulo 50 milh&otildees em propinas para a campanha de Dilma, de 15 de fevereiro deste ano, a revista lan&ccedilava luz sobre a dela&ccedil&atildeo de Marcelo Odebrecht aos integrantes da for&ccedila-tarefa da Lava Jato e antecipava o que o empreiteiro reitera agora a respeito das negociatas envolvendo a campanha da petista. Na ocasi&atildeo, em nota virulenta, embebida de c&oacutelera, Dilma dizia que a revista praticava jornalismo de guerra e acusava a publica&ccedil&atildeo de insinuar, de maneira vil e irrespons&aacutevel, sua participa&ccedil&atildeo em atos suspeitos durante a campanha presidencial, o que ela negava.

Na semana passada, no conveniente discurso de Dilma, t&iacutepico de quem tem culpa no cart&oacuterio, quem virou irrespons&aacutevel e mentiroso foi Marcelo Odebrecht. N&atildeo foi o que o empres&aacuterio deixou transparecer em seu relato. Com fartura de detalhes, ele contou que o repasse via caixa dois para as campanhas de Dilma Rousseff era regra e os pagamentos registrados na Justi&ccedila Eleitoral, uma exce&ccedil&atildeo. Marcelo contabilizou um total de R$ 150 milh&otildees repassados ao PT e calculou que, de cada R$ 5 pagos, R$ 4 n&atildeo eram registrados. Desses valores, R$ 50 milh&otildees seriam propinas referentes &agrave compra de uma medida provis&oacuteria para a Braskem em 2009: a MP 470, que garantiu benef&iacutecios tribut&aacuterios &agrave empresa, bra&ccedilo petroqu&iacutemico da Odebrecht. A negocia&ccedil&atildeo, antecipada com exclusividade por ISTO&Eacute, come&ccedilou ainda sob o governo Luiz In&aacutecio Lula da Silva entre Marcelo e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Desta vez, o empreiteiro acrescentou um detalhe: apesar de a negocia&ccedil&atildeo para o pagamento ter ocorrido por volta de 2010, o PT n&atildeo precisou usar imediatamente esses recursos. Guardou os R$ 50 milh&otildees para a campanha seguinte, a de 2014.

EXPLOSIVO Empreiteiro contabilizou um total de R$ 150 milh&otildees repassados ao PT e calculou que, de cada R$ 5pagos, R$ 4 n&atildeo eram registrados

Marcelo era o interlocutor da Odebrecht com a c&uacutepula do governo petista. Avocava para si as tarefas mais importantes: fazia os acertos e dava o aval para os principais pagamentos de propina. Mas, a despeito de sua import&acircncia na hierarquia da Rep&uacuteblica, surpreendeu aos participantes da audi&ecircncia o tom humilde adotado por Marcelo, conhecido por sua postura altiva e orgulhosa. Em um desabafo recheado de ironia, ele afirmou: Eu n&atildeo era o dono do governo, eu era o ot&aacuterio do governo. Eu era o bobo da corte do governo.

Seu depoimento finalmente esclareceu as suspeitas da Pol&iacutecia Federal sobre quem eram italiano e P&oacutes It&aacutelia. Segundo Marcelo, seu primeiro interlocutor no governo sobre os repasses era o italiano: o ex-ministro petista Antonio Palocci. Depois, por determina&ccedil&atildeo de Dilma, o assunto passou a ser tratado pelo sucessor: Guido Mantega, ou P&oacutes It&aacutelia, segundo as anota&ccedil&otildees apreendidas pela PF. Para ambos, entre 2008 e 2014, a Odebrecht disponibilizou R$ 300 milh&otildees.

Al&eacutem de Palocci e Mantega, o empres&aacuterio contou que tamb&eacutem tratava diretamente com o marqueteiro Jo&atildeo Santana sobre os pagamentos il&iacutecitos. Segundo ele, repasses via caixa dois tinham como destino as contas de Jo&atildeo Santana no exterior, como remunera&ccedil&atildeo aos servi&ccedilos prestados por ele &agrave campanha petista. Detalhe importante: segundo Marcelo Odebrecht, Dilma tinha conhecimento dos pagamentos a Santana no exterior. A maior parte dos repasses era em esp&eacutecie. O marqueteiro aparecia com o codinome Feira nas planilhas da Odebrecht. O fato, em si, n&atildeo representa novidade para os investigadores. A Lava Jato j&aacute havia detectado ao menos US$ 13 milh&otildees em transfer&ecircncias de contas no exterior da Odebrecht a uma das contas ligadas a Jo&atildeo Santana na Su&iacute&ccedila.

Mas um epis&oacutedio contado por Marcelo chamou aten&ccedil&atildeo e serviu como a demonstra&ccedil&atildeo cabal do envolvimento de Dilma Rousseff. Trata-se de um encontro com ela no M&eacutexico no qual o empres&aacuterio lhe avisou que os pagamentos feitos ao marqueteiro estariam contaminados porque partiram de contas que a Odebrecht usava para pagar propina. Ou seja: Dilma sabia do que estava acontecendo, ao contr&aacuterio do que sempre negou com veem&ecircncia.

CONEX&AtildeO CERVEJA
Outra negociata antecipada em reportagem de capa de ISTO&Eacute, de agosto de 2015, foi confirmada por Marcelo Odebrecht em seu depoimento ao TSE. A chamada Conex&atildeo-Cerveja. Ao detalhar o esquema de caixa dois petista, o empres&aacuterio afirmou que a empreiteira terceirizou repasses por meio da cervejaria Itaipava, do grupo Petr&oacutepolis. Em 2014, a campanha de Dilma havia recebido R$ 17,5 milh&otildees de maneira oficial somente da cervejaria. Tamb&eacutem &agrave Justi&ccedila Eleitoral, Benedicto Junior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, atestou que a doa&ccedil&atildeo da Itaipava era caixa dois travestido de caixa um.

Apesar de a negocia&ccedil&atildeo ter ocorrido entre 2009 e 2010, os R$ 50 milh&otildees foram usados por Dilma na campanha de 2014

Um dos articuladores do esquema Itaipava, o ex-presidente Lula n&atildeo atravessou inc&oacutelume o depoimento, embora o ex-presidente n&atildeo fosse objeto da a&ccedil&atildeo. Ao TSE, Marcelo disse que a Odebrecht detinha forte influ&ecircncia no governo, principalmente depois que o PT chegou ao Pal&aacutecio do Planalto, em 2003, ano em que Lula assumiu seu primeiro mandato. Marcelo Odebrecht acrescentou ainda que a empreiteira auxiliou campanhas no exterior nas quais o partido de Lula e Dilma tinha interesse. Os repasses ocorreram fora do Pa&iacutes.

O depoimento de Marcelo Odebrecht ocorreu por determina&ccedil&atildeo do ministro do TSE Herman Benjamin para fundamentar a a&ccedil&atildeo que aponta irregularidades na chapa de Dilma Rousseff e seu vice Michel Temer em 2014. Por isso mesmo, o empres&aacuterio respondeu a perguntas sobre um jantar que participou no Pal&aacutecio do Jaburu com o ent&atildeo vice-presidente Michel Temer em 2014, no qual teria havido o acerto de doa&ccedil&atildeo de R$ 10 milh&otildees para o PMDB. Suas declara&ccedil&otildees, por&eacutem, isentaram o presidente Temer. Marcelo disse que n&atildeo tratou de valores com o peemedebista e afirmou que a doa&ccedil&atildeo havia sido discutida pelo diretor de rela&ccedil&otildees institucionais da Odebrecht, Cl&aacuteudio Melo Filho, com um intermedi&aacuterio de Temer, o hoje ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Segundo Marcelo, o encontro com Temer foi apenas um shake hands (apertar de m&atildeos), uma confraterniza&ccedil&atildeo, e ele n&atildeo forneceu maiores detalhes sobre a operacionaliza&ccedil&atildeo do pagamento. Marcelo Odebrecht tamb&eacutem foi instado a comentar sobre eventuais pagamentos &agraves campanhas de A&eacutecio Neves (PSDB) e de Eduardo Campos/Marina Silva (PSB) em 2014. Mais uma vez, o empreiteiro n&atildeo se alongou. Limitou-se a dizer, por exemplo, que A&eacutecio pediu R$ 15 milh&otildees para a campanha. Ap&oacutes ser preso na Lava Jato, contudo, Odebrecht disse ter sido informado que o aporte financeiro acabou n&atildeo se concretizando. Em seu relato, o empres&aacuterio ainda afirmou s&oacute se recordar de doa&ccedil&otildees oficiais para o tucano, ao contr&aacuterio do que ocorreu em rela&ccedil&atildeo &agrave campanha de Dilma.

Para o Minist&eacuterio P&uacuteblico Eleitoral, a campanha de Dilma lavou dinheiro nas gr&aacuteficas VTPB, Focal e Red Seg

N&atildeo &eacute a primeira vez que a situa&ccedil&atildeo de Dilma Rousseff se complica no TSE. Peritos da corte eleitoral chegaram &agrave conclus&atildeo de que tr&ecircs gr&aacuteficas que receberam pagamento do PT n&atildeo haviam prestado qualquer tipo de servi&ccedilo &agrave campanha, conforme antecipou a edi&ccedil&atildeo de ISTO&Eacute do dia 8 de julho de 2016. O caso est&aacute sendo investigado.

Para o Minist&eacuterio P&uacuteblico Eleitoral, a campanha da petista lavou dinheiro nas gr&aacuteficas VTPB, Focal e Red Seg. Juntas, elas receberam uma fortuna da campanha de Dilma em 2014: R$ 52 milh&otildees. Aos poucos, a ex-presidente petista &eacute destronada do pedestal que ela mesma criou.

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FONTE:ISTO&Eacute.COM.BR

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Parmenas Alt
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