ex-secretário extraordinário da Copa do Mundo (Secopa), Maurício Guimarães, que foi um dos alvos da operação Descarrilho, da Polícia Federal, era responsável por arrecadar propinas de empreiteiros que executavam as obras previstas para a realização do Mundial de 2014, em Cuiabá.
A informação consta em um depoimento prestado pelo ex-governador Silval Barbosa (PMDB) à PF. O inquérito resultou na operação deflagrada na quarta-feira (9) em Mato Grosso e outros quatro estados, que apura um suposto esquema de propina envolvendo representantes de empresas responsáveis pela obra do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e o desvio de verba por meio de empresas contratadas pelo Consórcio VLT.
Maurício Guimarães ficou à frente da Secopa por mais de dois anos. Ele assumiu o cargo em 2012 e permaneceu até 2014, quando terminou a gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB). O G1 não conseguiu localizar a defesa do ex-secretário.
As investigações da Polícia Federal e o depoimento de Silval apontam que Guimarães agia como o articulador da arrecadação de propina junto aos empresários que tinham contratos com o governo do estado no âmbito da Secopa, inclusive tendo entrado em contato com representantes do Consórcio VLT Cuiabá-Várzea Grande, responsável pela execução da obra do VLT, para acertar pagamentos de vantagens.
"Maurício Guimarães, cumprindo determinação de Silval Barbosa, negociou o pagamento de propina decorrente dos valores a serem pagos relacionados às obras e serviços de engenharia com um diretor da empresa CR Almeida", diz trecho do inquérito.
Nas negociações para pagamento de propina referente à obra do VLT, ficou acertado que o grupo político do ex-governador Silval Barbosa receberia 3% sobre o montante de R$ 600 milhões referentes à parte de engenharia da obra, totalizando R$ 18 milhões. O dinheiro, segundo Silval Barbosa, seria usado para amortizar uma dívida de R$ 29,5 milhões contraída por empresários, membros do seu grupo político, durante a campanha ao governo do estado, em 2010.
Condução coercitiva
Maurício Guimarães foi conduzido coercitivamente à sede da Polícia Federal, em Cuiabá, para prestar esclarecimentos, na quarta-feira (9). A residência dele, na capital, também foi alvo de mandado de busca e apreensão.
Ato de improbidade
Guimarães já é réu em algumas ações judiciais sob acusação de ter cometido atos de improbidade administrativa durante a sua gestão. Em 2016, passou a responder a um processo na Justiça depois de ter sido denunciado por ter supostamente se negado a prestar informações à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre o andamento das obras da Copa.
Neste ano, ele, Éder Moraes (que foi o antecessor de Guimarães na Secopa) e um ex-servidor da Secopa se tornaram réus na Justiça em uma ação movida pelo Ministério Público Estadual (MPE) por supostamente terem causado prejuízo ao erário de R$ 410,7 mil. O desvio teria ocorrido por meio de um contrato para a construção de uma obra de mobilidade com uma empresa que não tinha apresentado a melhor proposta durante o processo licitatório.
O governo do estado alegou, em nota, que apoia as investigações sobre o caso e que não pagou nenhum valor ao consórcio do VLT desde janeiro de 2015 por entender que as despesas alegadas eram controversas e necessitavam de checagem. O governo ainda determinou a suspensão das negociações para a retomada da obra.
G1