O diálogo entre os dois no qual ela explica como mergulhou no vício é exemplar. Após o nascimento de um terceiro filho com necessidades especiais, o marido a abandonou e ela rejeitou a criança. Isolada, a única alegria momentânea que alega ter encontrado estava nos copos sucessivos.
Confessa não gostar do sabor, mas do efeito efusivo e relaxante que lhe dão um respiro numa vida cotidiana da qual deseja escapar. Mas esse caminho a mata gota a gota, e o filho, taxista como o pai, começa a trabalhar cada vez mais horas nas mais diversas situações para conseguir dinheiro para interná-la numa clínica de reabilitação.
Uma decisão do diretor merece especial relevância. Ele opta por não colocar trilha sonora ao longo da narrativa, o que dá às cenas um clima realista louvável, já que nossa vida cotidiana não tem música de fundo. Destaca-se ainda a cena em que o filho mostra à mãe uma filmagem feita no celular em que ela está totalmente descontrolada pela falta de bebida na casa. Em seu discurso, ele reforça que não é aquela mãe com a qual ele gostaria de conviver. O momento é tocante e de grande força dramatúrgica e vivencial
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.