O São Paulo renovou o contrato do treinador Muricy por mais dois anos e, no embalo, acerta com Mineiro por mais quatro, na esperança de que o craque encerre sua carreira no Morumbi e por ali vá ficando em alguma outra função técnica.
Isso é o que se pode chamar de planejamento, ainda mais inusitado num clube que se submete rigorosamente ao rodízio de presidentes, no máximo, de quatro em quatro anos, em eleições de dois em dois.
Não se trata, pois, de arroubo ou capricho de um presidente eternizado no cargo como na maioria dos nossos grandes clubes. Logo, é um projeto do clube, que independe de eventuais idiossincrasias do senhor de plantão.
Aliás, a idéia de não apenas produzir jogadores no clube, mas, também, técnicos e profissionais habilitados a completar os quadros de funcionários do São Paulo, vem de longa data.
O saudoso Gino Orlando, ex-artilheiro do time nos anos 50, foi um exemplo cabal disso, ao dirigir o estádio do Morumbi por décadas.
O próprio Muricy era para já ter batido um recorde brasileiro, como técnico do São Paulo desde a saída de Telê. Sim, porque Muricy, depois de ter sido um craque extraordinário, forjado no Morumbi desde a meninice, foi auxiliar de Telê justamente para aprender com o mestre os segredos de seu ofício e substituí-lo, quando de seu afastamento inevitável.
O esquema só não funcionou porque a sombra de Telê era tão poderosa que nenhum outro técnico resistiu à pressão da galera tricolina, que até hoje idolatra o saudoso mestre.
Agora, quando Telê é apenas uma doce lembrança, a turma sossegou. E basta lembrar que os três últimos treinadores, antes de Muricy, Cuca, Leão e Autuori, não foram demitidos; demitiram-se em nome de suas próprias conveniências, coisa raríssima em clube do porte do São Paulo.
Sou capaz de apostar uma maria-mole e um cigarro Yolanda que Muricy, por suas profundas ligações com o clube e, sobretudo, por sua competência, haverá de arrebatar de Telê o recorde de permanência no clube.
Sim, sei bem, que Muricy é teimoso, casca grossa, e passível de cometer erros como qualquer um de nós. Mas, o tempo e as conquistas que estão por vir, certamente, serão bons conselheiros.
Quanto a Mineiro, além de tudo que está jogando com a camisa tricolor, já se revelou um tipo de caráter, como dizia meu velho, e dono de uma inteligência viva, que se esconde por trás da proverbial discrição – diria que o apelido que carrega não poderia cair melhor nesse gaúcho.
E assim o São Paulo, três vezes campeão do mundo, quatro vezes campeão brasileiro, continua olhando para o futuro, enquanto outros clubes de igual tamanho suspiram por seus passados de glória.
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