Às vésperas da maior festa popular do Brasil uma revista brasileira de grande circulação trouxe à tona mais um escândalo envolvendo o governo do Estado do Rio de Janeiro. A reportagem divulgada na última quinta-feira (27/2) apresenta detalhes dos documentos apreendidos na operação Castelo de Areia, deflagada pela Polícia Federal em março de 2009. A denúncia fala de um suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo a construtora Camargo Corrêa e aliados do governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB).
Esse assunto, aliado à greve dos garis, inspirou as manifestações dos foliões nos blocos de rua e nas rodas de samba durante o carnaval, expressadas não só nas letras dos sambas, mas em cartazes e faixas ironizando os desmandos do poder público do Estado.
De acordo com a reportagem, os documentos que compõem o processo criado a partir da Castelo de Areia indicam que o secretário de Governo do Rio, Wilson Carlos Carvalho, e o sócio de Cabral na empresa SCF Comunicações, Carlos Emanuel Miranda, teriam recebido propinas em um esquema formado durante a renovação da concessão do Metrô Rio, através de transferências de recursos para contas no país e no exterior. O pagamento teria sido efetuado, segundo a matéria da revista, após a controladora do Metrô Rio até o ano de 2008, a Opportrans, acertar a dívida do Governo do Estado com a construtora, no valor de R$ 40 milhões. Carvalho e Miranda teriam recebido propinas no valor de R$ 2 milhões, ou seja, 5% do total da dívida. Assim, a concessão do Metrô foi renovada até o ano de 2038, sem passar pelo processo de licitação.
A assessoria de imprensa da Camargo Corrêa, afirmou que o acordo triangular com o Estado e o Metrô Rio “foi homologado pela Justiça”. Já o governo do Rio afirmou que o secretário Wilson Carlos “jamais recebeu dinheiro desse ou de qualquer outro acordo que envolva o Estado e nunca teve conta no exterior”. Além disso, disse que Carlos Miranda foi sócio de Cabral “em uma empresa que deixou de operar há mais de sete anos e já foi extinta”.
O deputado federal Anthony Garotinho (PR) comentou a reportagem no seu blog, acrescentando que Carlos Emanuel Miranda ocupava o cargo de consultor técnico da Comissão de Orçamento durante a gestão de Sérgio Cabral na presidência da Assembléia Legislativa – "já seria um escândalo", comenta Garotinho. Segundo o deputado, Miranda é detentor de 5% das ações da empresa SCF Comunicações, enquanto Cabral tem 90% e o Coordenador de Comunicação Social do Estado, o jornalista Ricardo Luiz Rocha Cota possui os outros 5%. "Essas comprovações mostram que Cabral provavelmente usava esta empresa ou outra para lavar o dinheiro que recebia de propinas", afirma Garotinho na sua página na internet. Ele afirmou ainda que Miranda também é sócio do irmão do governador, Maurício de Oliveira Cabral, na empresa LRG Consultoria e Participações.
Blocos de rua em clima de "Fora Cabral"
Nos blocos de rua o assunto rendeu muitas críticas ao governo de Sérgio Cabral e inspirou os dizeres em cartazes. “Eu cheguei a votar no Cabral, mas com as coisas que estão acontecendo ele não será mais meu candidato. Nem ele, nem o Pezão. Estou muito insatisfeita com o governo dele, antes eu tinha uma vida mediana, mas agora meu nível está diminuindo cada vez mais. Eu acho que esses políticos deveriam estar em ‘cana’[cadeia]”, desabafou pensionista Teresa Nunes, 77 anos, moradora de Laranjeiras, enquanto pulava carnaval num dos blocos da cidade. O aposentado da prefeitura Carlos Antonio Gomes, 64 anos, foi mais agressivo na sua opinião. “Por mim o Cabral saia hoje do poder à bengalada. Ele e o Eduardo Paes deveriam sair do governo a pancadas. O governo é péssimo, ele, por sua vez, é um péssimo governador em todas as áreas: educação, saúde, segurança etc. Eu não votei nele e nem pretendo votar no Pezão, são todos ‘farinha do mesmo saco’", exclamou o aposentado.
Outra moradora do bairro de Laranjeiras, Claudia Andrade, 49 anos, acredita que a administração de Cabral decepcionou muito a população. “Eu estou achando o governo do Cabral péssimo. O maior problema é que as pessoas continuam votando nesse tipo de político corrupto. Eu acho que o voto não deveria ser obrigatório, assim não haveria pessoas como ele no poder. O estado nas mãos dele está piorando cada vez mais, e com Pezão seria o mesmo. Acho que vou anular meu voto, porque está difícil pensa em alguém”, disse ela enquanto acompanhava o bloco "Volta, Alice". No mesmo bloco e dividindo a mesma opinião com Cláudia Andrade, o técnico de informática Márcio Simões, 58 anos, acredita que "um governo que está no fim não deveria renovar concessão nenhuma. Isso era trabalho para o próximo governador decidir. O governo do Cabral já deu. Ele já roubou muito, já governou muito, agora chega”, disse.
O funcionário público Luiz Carlos Rodrigues, de 61 anos, afirma que a corrupção na cidade aumenta a cada dia e o governo cai no descrédito. "Como pode um governo que cobra comportamentos do cidadão, como não parar o carro no local proibido e não jogar lixo nas ruas, tomar tantas decisões erradas. Cadê o exemplo? Quando o povo reivindica os seus direitos, como está acontecendo agora com os garis, eles nem dão atenção. Tem que haver uma renovação urgente", disse ele.
Já o aposentado Tito José de Oliani, de 66 anos, tem uma visão bem crítica das denúncias e comportamento do governo Cabral. "O que o governador e também o prefeito Eduardo Paes têm feito é olhar para os seus interesses comerciais, sem trabalhar para o bem da cidade. Basta a gente ver como está a situação da saúde, educação. Os direitos do cidadão estão acabando, como agora no caso dos garis. Tem que reivindicar mesmo. Eles estão certos. Não falta dinheiro para o governo melhorar as condições de vida e trabalho dessas classes", disse o aposentado.
A cuidadora Maria José, de 46 anos, considera que o carioca está vivendo um "fim de mundo", com tanta corrupção e violência urbana, em consequência das decisões erradas do governo local. "E quando o caso chega à Justiça, como esse envolvendo a equipe do Cabral, não acaba em nada. E tem mais, eles descobrem o esquema, mas será que vão descobrir e devolver o dinheiro?", questionou ela.
Jornal do Brasil
Claudia Freitas