Por Otacílio Nascimento, diretor executivo da Fundação Toyota do Brasil
Após viver uma das maiores queimadas da história, que impactou cerca de 39 mil km² – o equivalente a mais de 4.700 campos de futebol – e levou 16,9 milhões de animais vertebrados à morte, o Pantanal se reergueu. O ano de 2022 foi marcado por um recorde positivo: a redução histórica no número de queimadas. Apesar da boa notícia, precisamos seguir vigilantes no que diz respeito à maior planície inundável do planeta.
Isto porque a ação humana está “esquentando” a região de outras maneiras. De acordo com dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ), sua temperatura sofreu um aumento de cerca de 4° C nos últimos 40 anos, sendo uma das áreas da Terra que mais esquentou.
Tais alterações impactam o bioma e, por consequência, a sobrevivência de, aproximadamente, 1.400 espécies de plantas, 400 de aves, 325 de peixes e 124 de mamíferos, que dependem do Pantanal. O recado que a natureza vem nos dando é bem claro: precisamos protegê-lo.
Nesse sentido, sociedade civil, terceiro setor e entidades governamentais devem atuar juntos para amenizar a situação e garantir que o bioma permaneça de pé. Além de ser lar de uma rica biodiversidade, abriga cerca de 3 milhões de pessoas, que dependem do Pantanal para acessar água limpa e adquirir alimentos.
Ações de prevenção que possam evitar que focos de fogo tomem proporções maiores e se tornem grandes incêndios podem ser parte da solução. Iniciativas como o Projeto Brigadas Pantaneiras, realizado pelo Instituto SOS Pantanal e com o patrocínio da Fundação Toyota do Brasil, que traz a população pantaneira para o centro da ação, dão um senso de responsabilidade ainda maior para as pessoas que participam. Mais de 350 pessoas já foram qualificadas para atuarem em 24 brigadas comunitárias espalhadas pelo Pantanal e seu entorno. Os resultados são positivos e concretos: nas áreas em que o grupo atuou, entre 2020 e 2022, houve redução de 89% de área queimada e 76% de focos. Além disso, no período, não foram observados incêndios consecutivos no mesmo lugar.
O poder público, por sua vez, pode contribuir com a elaboração e fiscalização do cumprimento de políticas públicas que auxiliem na conservação da área. Além disso, promover parcerias público-privadas para a criação de programas de educação ambiental e conscientização da comunidade pantaneira sobre a importância da conservação e do uso sustentável da região.
Ações isoladas não serão eficazes para a manutenção desse ecossistema único e de sua prosperidade para as gerações futuras. Os impactos causados pela ação humana demoram anos para serem superados e, por isso, precisamos cuidar para que o Pantanal nunca mais passe pelo que vimos recentemente e siga sendo lar de araras-azuis, manduvis, peixes-rei e outras tantas espécies que vivem na região.