Recentemente, temos visto nos noticiários a verdadeira guerra travada entre autoridades e usuários de drogas na famosa Cracolândia, região soturna de São Paulo. Entre análises jornalísticas, opiniões por todas as redes sociais e debates, muitas vezes, sem fundamentos moldados por argumentos, nos deparamos com um desabafo, no mínimo sincero, de alguém que enfrenta (afinal, para muitos, a autovigilância não pode ter fim) a difícil missão de se afastar das drogas definitivamente. Abaixo, algumas palavras de Fábio Assunção, escritas em sua página no Facebook, sobre o que ele vê e como digere a novela que se passa na obscura Cracolândia e protagonizada por personagens que não pediram para fazer parte desta história…
"O que leio diariamente sobre a ação da polícia, visita das autoridades e discussões dos representantes da sociedade sobre a cracolândia, deixa evidente a dificuldade do homem em assumir e ser honesto frente a questão da dependência química no mundo ou aqui no Brasil, problemática grave e perigosa, vivida por 14% da população mundial, ou, 700 milhões de pessoas. Delegada pelo estado aos homens discriminados pela sua pobreza e raça, os administradores da produção e distribuição de entorpecentes. Quem realmente anda batendo cabeça não me parece serem apenas os dependentes de álcool e drogas, os drogados como os seres fúteis e ignorantes costumam chamar, e sim a sociedade, que se torna indecente com tanta hipocrisia e demagogia. Enquanto não nos libertarmos do nosso sentimento equivocado de superioridade aos que vivem num labirinto de desespero e solidão e enquanto não formos honestos com nossas vidas, essa tristeza vai continuar. Mas tudo bem, para quem prefere se declarar estrangeiro à essa questão. Um dia seus filhos o farão pensar sobre isso de forma humanitária. Nada como um dia após o outro. Crime é fechar os olhos àquilo que precisa de inteligência e verdade, além, claro, de amor. Nossas autoridades passeiam pela cracolândia como se estivessem no Simba Safari, olhando os animais do carro, rezando para não serem atacados. O frágil não são os senhores, são as almas em busca do nada, sem a capacidade de desenhar um caminho verdadeiro. Aliás, minto, os frágeis são sim, os senhores, por que é preciso ser forte para vencer uma tempestade e os senhores não vivem sem seus guarda chuvas de papel.”
Com Pedro Willmersdorf