domingo, 22/12/2024
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O Comitê Olímpico Internacional não contava com o desmoronamento político do Brasil de Dilma

Em qualquer circunstância, o Comitê Olímpico Internacional (COI) faz questão de seguir à risca a centenária liturgia dos eventos promovidos pela organização. Assim será em 21 de abril, quando, em uma representação teatral que se repete a cada quatro anos no berço dos Jogos, em Olímpia, na Grécia, onze vestais usarão um mecanismo moderno para capturar os raios do Sol, no templo de Hera, e por meio deles acender a tocha que chegará ao Rio de Janeiro em agosto.

A encenação, legítima e bonita, soa alheia ao mundo das coisas reais, e pede uma indagação incontornável: Dilma Rousseff estará lá, como dita o protocolo, apesar do derretimento olímpico de seu governo? Muito possivelmente, não. O COI acompanha em tempo real os desdobramentos da crise brasileira, a ponto de seus integrantes serem capazes de discorrer com conhecimento de causa sobre os próximos passos do processo de impeachment e a composição do STF.

O desmoronamento político não fazia parte da narrativa do COI para os Jogos do Rio. O lance mais recente foi o afastamento do ministro dos Esportes, George Hilton. Felizmente, para o comitê, ao menos, o substituto será um técnico da pasta, Ricardo Leyser. Há obstáculos para todos os lados. Existe desconforto da opinião pública com os gastos da Olimpíada ante a fragilidade econômica do país. Não se descartam manifestações como as de 2013 e 2014 contra a Copa.

E, no entanto, não se pode dizer que a grita contra a Olimpíada se compare ao "Imagine na Copa", frase jocosa que ganhou popularidade por opor o Brasil real ao Brasil temporariamente lindo das partidas de futebol. Não há um placar de 7 a 1 contra os anéis olímpicos. Até janeiro, as pesquisas internas das equipes do prefeito carioca Eduardo Paes e do Comitê Rio 2016 indicavam que mais de 60% dos brasileiros eram favoráveis à realização da competição. Mas, como tudo no Brasil tem mudado com muita velocidade, convém ser cauteloso. Para evitar incômodos, a simplicidade virou mantra. O alemão Thomas Bach, presidente do COI, com direito a limusine na Suíça, no Rio só anda de van e, recentemente, espremeu-se sem reclamar no assento do meio de um avião de carreira.

Com uma lupa é possível ver boas notícias e nelas se pendurar. O governo federal já pôs sua assinatura em praticamente todos os contratos da sua alçada, embora ainda faltem ­cheques fundamentais, como o de 500 milhões de reais, em maio, para finalizar a Linha 4 do metrô. Outro aspecto de certa forma tranquilizador é o fato de os processos de impeachment da presidente terem entrado em pauta agora, com chance de ser votados e encerrados antes do início da Olimpíada. O cenário improvável de convocação de novas eleições, além de tirar os holofotes da competição, poderia ter o eventual candidato Paes fazendo dela um palanque, o que bate de frente com o princípio sagrado do comitê de não misturar política e esportes. A desenvoltura de "prefeito olímpico", inclusive, pode incomodar: na ausência do governo federal, ele tende a ocupar o centro de todos os palcos.

Um bom exemplo dos riscos de ter o prefeito exageradamente na ribalta se deu na semana passada. Ao serem informados da gravação, pela Polícia Federal, do diálogo em que o prefeito critica a "cabeça de pobre" de Lula, entre outras bobagens, os membros do COI rotularam na hora: foi uma "caipirinha joke". Tradução da expressão, comumente usada pelos dirigentes de Lausanne, depois de longas temporadas no Brasil: piada sem graça. Em agosto, Bach tomou uma caipirinha em jantar com o prefeito no Rio; na manhã seguinte, em uma agenda que não incluía oficialmente Bach, ­Paes brincou e justificou a ausência do alemão pelos efeitos da bebida. Pronto: nascia o verbete. Mas já não há mais espaço para escorregadelas, e o que antes era visto com sorrisos agora só traz preocupação.

Mesmo que tudo estivesse bem no Brasil de Dilma, haveria tensão, resultado da corrida contra o relógio, nas áreas de infraestrutura e segurança. Na infraestrutura, o principal problema é a compra (repetidamente adiada) de geradores de energia para as arenas, tarefa compartilhada com o governo estadual (em péssima situação financeira). Ainda faltam licitações para a aquisição de mobiliário e material esportivo. Na segurança, a formação de policiais para servir na Força Nacional que atuará na Olim­pía­da está empacada: apenas 6 000 dos 9 600 profissionais convocados para o torneio estão aptos para o minucioso trabalho. Por escassez de verbas, a ocupação por Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Complexo da Maré, conjunto de dezesseis favelas bem na entrada do Rio, foi adiada. Até um dos três helicópteros da Polícia Civil, o mais bem equipado da frota, deixou de voar por falta de manutenção. Só no mês que vem deverá ser licitada a estrutura tecnológica das arenas esportivas. A expectativa é que as pendências sejam resolvidas a tempo, mas, até lá, haja cobrança. E aflição.

O governo federal, por sua vez, trafega em uma linha fina quando o assunto é Olimpíada. Dilma gostaria de associar-se à provável popularidade dos Jogos, uma das únicas agendas positivas que lhe restam, mas teme que essa conexão traga à tona uma rea­ção raivosa diante dos bilhões gastos. O assunto, segundo pesquisa nacional recente encomendada pela Secretaria de Comunicação em Brasília, pode mesmo mobilizar a população, para quem as prioridades devem ser os investimentos em áreas como saúde e educação. O Planalto tinha a intenção de organizar um mutirão de ministros para fazer presença em eventos olímpicos, mas as circunstâncias vêm tratando de frustrá-la. Nos últimos dias, três ministros – Edinho Silva (Comunicação Social), Marcelo Castro (Saúde) e Henrique Alves (Turismo) – desmarcaram agendas olímpicas no Rio porque tinham assuntos mais urgentes em Brasília. O jogo não está fácil para ninguém.

 

 

 

 

 

Por: Thiago Prado:Veja.Com

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Parmenas Alt
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A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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