Você já deve ter escutado falar sobre o Aquífero Guarani, que é um dos maiores reservatórios de água subterrâneas do mundo. O que talvez você não saiba é que uma parte deste aquífero está no município de Chapada dos Guimarães, bem perto da capital do estado de Mato Grosso. Neste texto vou explicar de uma forma simples, como essa importante reserva de água se formou.
A história começa há mais 140 milhões de anos, quando a África e a América do Sul ainda faziam parte de um só continente. Nesta época, um imenso deserto se entendia desde o Uruguai, parte da Argentina, passando por vários estados brasileiros e chegando até Mato Grosso. O vento movimentava as areias que formava as dunas, constituídas por grãos de bem arredondados, com tamanhos similares. Essas dunas depois de muito tempo de transformaram em rochas, que durante os estudos geológicos ganharam o nome de Formação Botucatu, cidade situada no estado de São Paulo, onde essas rochas foram descritas. Devido ao tamanho dos grãos de areia serem muito parecidos, pequenos espaços firam entre cada um deles, permitem armazenar uma grande quantidade de água, a qual chamamos de Aquífero Guarani.
Caso o leitor queira entender melhor como funcionam os aquíferos, você pode fazer um experimento em sua casa. Pegue uma quantidade de bolas de gode e coloque em copo, imagine agora que cada bola de gode é um grão de areia. Entre elas existem espaços vazios, preenchidos com ar. Pegue água e despeje dentro do copo. Então agora os espaços vazios ficarão preenchidos com água, da mesma forma como ocorre com os espaços existentes entre os grãos de areia.
Aquíferos não são rios subterrâneos ou caixas d’aguas enterradas. A água dos aquíferos está no meio das rochas, e embora ela se movimente, é um ritmo muito menor que ocorre na superfície.
Se você conhece Chapada dos Guimarães, já deve ter observado que na estrada, entre a salgadeira e o portão do inferno, nas rochas que existe a direita, existe inúmeros conjuntos de linhas em forma de parábolas. Essas linhas, na geologia são chamadas de estratificações, elas mostram antigas estruturas das dunas que já existiram nesta região, ou seja, na verdade são pedaços de dunas que viraram rocha e ficaram preservados no tempo geológico.
O antigo Deserto do Botucatu com certeza também recobria Cuiabá, e outros locais do estado, porém, devido aos processos erosivos, as rochas que contam a história deste momento do nosso planeta, só ficaram preservadas somente em alguns locais.
Regiões como da Cidade de Pedra, no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, são o que chamamos de áreas de recargas do aquífero. Nestes locais, a água infiltra no solo e fica armazenada em meio as rochas do antigo deserto. Rios como Salgadeira, Paciência e outros, se formam das águas que saem do Aquífero do Guarani. Se você quer olhar isso com mais atenção, basta observar no Google Maps as áreas onde nascem os rios citados. São muito próximas as escarpas (paredões) de Chapada dos Guimarães, que são formadas pelos arenitos da Formação Botucatu.
Não é incrível imaginarmos que as areias de um deserto, se transformaram em rochas e que agora, são as grandes responsáveis por armazenarem por boa parte das águas que chegam a Cuiabá?
Caiubi Kuhn
Geólogo, especialista em Gestão Pública e mestre em Geociências pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT);
Docente do Faculdade de Engenharia UFMT-VG;