Trocas de tiros entre membros de facções palestinas rivais deixaram ao menos 11 mortos nesta segunda-feira e nas primeiras horas de terça-feira em Gaza, na última onda de violência da disputa de poder entre os movimentos Fatah e Hamas. Os dois movimentos, que formam o governo de coalizão palestino, possuem tanto braços armados quanto políticos.
Entre os últimos episódios de violência, homens armados trocaram tiros em dois hospitais, atacaram a sede do governo palestino e se enfrentaram nas ruas. Altos oficiais dos dois lados foram atacados.
Mohammed Salem/Reuters
Crianças palestinas observam funeral de simpatizante do Hamas
Depois do anoitecer, homens armados, supostamente do Hamas, cercaram a casa de Jamal Abu al Jediyan, oficial do Fatah no norte de Gaza. Eles arrastaram Al Jediyan para a rua e o mataram. Segundo os médicos, o oficial recebeu 45 tiros.
O porta-voz do Fatah Maher Mikdad prometeu vingança pelo assassinato. “O que é isto, senão uma guerra?” questionou.
Em uma mensagem, o Fatah pediu a seus membros que tomem políticos e líderes militares do Hamas como alvos de suas ações.
No começo desta terça-feira (a faixa de Gaza está seis horas à frente do horário de Brasília), três mulheres e uma criança foram mortas quando militantes do Hamas atacaram a casa de outro oficial de segurança do Fatah, Hassan Abu Rabie, com morteiros e granadas.
O Fatah também empreendeu ataques. Homens armados invadiram a casa de um legislador do Hamas e a incendiaram. Em Nablus, na Cisjordânia, membros do Fatah seqüestraram um ativista do Hamas e queimaram o carro de um político local do grupo.
Apelos por calma pelos líderes dos dois movimentos rivais –o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, do Fatah, e o premiê palestino, Ismail Haniyeh, do Hamas– foram ignorados. Repetidas tentativas de retomar uma trégua também falharam. O número de mortos de hoje pode ser ainda maior: a agência de notícias Associated Press estimou em 17 as vidas perdidas nos confrontos de hoje.
Confronto
O pior confronto do dia ocorreu em Beit Hanoun, no norte de Gaza, onde membros do Fatah e do Hamas trocaram tiros perto de um hospital. Um simpatizante do Hamas morreu. A luta se deslocou para dentro do hospitais, onde três homens de um clã aliado do Fatah foram assassinados a tiros.
Mohammed Salem/Reuters
Homens armados do Fatah vão a funeral de membro da guarda presidencial em Gaza
De acordo com a Associated Press, os confrontos de hoje aumentaram para ao menos 80 o número de mortos desde que a onda de violência entre o Fatah e o Hamas foi iniciada, em maio último.
Também hoje, foi divulgado que homens armados atacaram a casa do premiê palestino, Ismail Haniyeh, e atiraram contra escritórios do Ministério da Cultura e dos Esportes, administrados pelo Hamas em Gaza, interrompendo o cessar-fogo acordado no sábado (9) entre os rivais.
Não houve relato de vítimas na ação contra a casa de Haniyeh, localizada perto do campo de refugiados de Shati, ao lado da Cidade de Gaza. Não ficou claro se o premiê estava em casa no momento do ataque. Segundo sua família, seus filhos e netos estavam no local.
Foi a primeira vez em um mês que Haniyeh foi o aparente alvo de um ataque.
Trégua
No acordo fechado no sábado, alcançado por uma comissão das facções com a mediação de funcionários de segurança egípcios destacados em Gaza, os dois lados comprometeram-se a suspender as barreiras das ruas e a retirar franco-atiradores posicionados em telhados.
Marcelo Katsuki
Desde a quinta-feira (7), ao menos outras seis pessoas haviam morrido e mais de 50 ficaram feridas em confrontos armados entre Hamas e Fatah. Os novos ataques colocam em xeque a duração da trégua.
Pouco após o início oficial do cessar-fogo, neste domingo, homens armados atacaram o escritório do ministro dos Esportes, Bassem Naim, do Hamas, que é aliado próximo de Haniyeh, de acordo com assessores. Naim não ficou ferido na ação.
Anteriormente, homens armados lançaram granadas contra uma delegacia de polícia.
Integrantes de ambos os partidos continuam a bloquear intersecções em Gaza, em violação ao acordo.
Mais de 600 palestinos morreram em confrontos desde a vitória do Hamas nas eleições parlamentares de janeiro de 2006.
Estudantes
O acordo visa permitir que os cerca de 700 mil estudantes de Gaza e da Cisjordânia possam realizar seus exames escolares com segurança. “Estes confrontos são lamentáveis”, afirmou Abbas em uma escola em Ramallah. Segundo ele, Fatah e Hamas trabalham para dar fim à violência.
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Estudantes palestinos fazem exame final em escola de Gaza
Os exames tiveram início em Gaza e na Cisjordânia mas os estudantes precisam procurar atalhos para chegar às escolas sem correr o risco de serem atingidos por tiros.
Daliya Naji, 16, estudante da Cidade de Gaza, disse que os sons dos confrontos a mantém acordada durante a noite.
“Sou uma boa aluna, mas minha cabeça está vazia. Não consigo pensar em mais nada, não sei mais o que fazer”, afirmou.
“O Fatah e o Hamas não se importam que tenhamos nossos exames finais hoje”, disse o estudante Musbah Abu al Kheir,17.
“Como podemos fazer exames ao som de tiros e sirenes de ambulâncias?”, questiona.
Com Associated Press, Efe e Reuters