Empresários e lideranças do setor criticam a decisão da ANTT
Lideranças do setor de transporte alertam para os riscos de um colapso logístico devido à implementação acelerada do novo modelo de pagamento do Vale-Pedágio Obrigatório, determinado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A Resolução nº 6.024, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2025, restringe o pagamento exclusivamente ao uso de tags eletrônicas, descartando métodos como cartões físicos, cupons e até transferências via Pix.
A transição ocorre em um momento crítico, com o Brasil prestes a colher a maior safra de soja de sua história — estimada pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) em 168,7 milhões de toneladas, um aumento de 9,4% em relação à safra anterior.
O curto prazo para adequação à nova regra, sem uma regra de transição, gerou uma corrida pelas tags eletrônicas, resultando em sua escassez no mercado. Transportadoras e caminhoneiros autônomos (TACs) enfrentam dificuldades adicionais devido a restrições de crédito impostas por fornecedores das tags, tornando a aquisição ainda mais complexa.
“Operadoras não estão conseguindo atender à demanda concentrada, e o sistema de emissão de vales já sofreu instabilidade nesta semana. Isso compromete diretamente o escoamento da safra e aumenta os custos operacionais”, relata Carley Welter, Diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportadores de Cargas do Brasil (ANATC).
Além disso, a regulamentação prevê que cartões e cupons emitidos até 31 de dezembro de 2024 tenham validade de apenas 30 dias, ampliando a pressão sobre o setor no início de 2025.
Empresários e lideranças do setor criticam a decisão da ANTT de implementar a mudança em um período de alta demanda logística. “A escolha de janeiro, em pleno escoamento da safra, é desastrosa. Muitos transportadores ainda não conseguiram se adaptar, o que compromete a fluidez das operações e gera insegurança jurídica”, avalia Welter.
A ANATC já havia solicitado à ANTT um prazo de transição para evitar o colapso, mas o pedido foi indeferido. “Sem tempo suficiente para adaptação, milhares de caminhoneiros e embarcadores estão sem alternativas, enfrentando gargalos logísticos que podem resultar em multas de R$ 3.000,00 por veículo a cada viagem”, pontua o diretor-executivo.
Se o cenário não for revertido, os impactos podem ser severos. A combinação de multas, atrasos no escoamento e aumento nos custos dos fretes ameaça reduzir a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional, justamente quando o país atinge recordes históricos de produção.
As lideranças do setor enfatizam que a transição abrupta e sem redundâncias coloca em risco não apenas as operações de transporte, mas a confiança em políticas públicas de logística. Sem ajustes, o Brasil pode enfrentar um “apagão logístico” com consequências graves para a economia.