As cavidades nasais estão se tornando um caminho viável para acessar diferentes regiões do cérebro e facilitar operações que antes exigiam grandes aberturas no crânio.
A cirurgia endoscópica –já há alguns anos usada para operar tumores na glândula hipófise– tornou-se uma aposta para tratamentos em outras áreas do cérebro à medida que a técnica é aperfeiçoada.
“Hoje temos novos conhecimentos da técnica, que têm permitido fazer a cirurgia de forma expandida na base do crânio [parte que separa o cérebro dos seios da face e do nariz].
Podemos, por exemplo, tratar tumores na meninge”, afirma Paulo Lazarini, otorrino da Santa Casa de São Paulo.
Ele conta que alguns hospitais no Brasil já assimilaram os novos usos que a cirurgia endoscópica vem ganhando na Universidade de Pittsburgh (EUA), onde a técnica foi inventada e é aperfeiçoada.
A operação é feita com o auxílio do endoscópio introduzido pelo nariz, que permite ao médico acompanhar tudo numa tela. Outros instrumentos também penetram pela via respiratória. É feita uma pequena perfuração no crânio, e o tumor, retirado.
A principal mudança na cirurgia foi na etapa final: o fechamento do crânio. Em vez de usar pedaços de mucosa do nariz ou de músculos da perna –tecidos que tendiam a morrer com o tempo–, os médicos passaram a usar um retalho do septo nasal sem desgrudá-lo totalmente, permitindo que ele continue irrigado por vasos sangüíneos e vivo, portanto.
“Hoje tratamos tumores próximos ao nervo óptico e à carótida [artéria que irriga o cérebro]. A nova técnica trouxe mais segurança para o fechamento da base do crânio, diminuindo o risco de expor o cérebro ao contato com a via respiratória, onde há bactérias. Diminuiu então o risco de complicações como a meningite e a drenagem de líquido cerebral pelo nariz”, afirma.
Neuronavegação
Fernando Oto Balieiro, otorrino do Hospital Professor Edmundo Vasconcelos, diz que, além da nova forma de fechar o crânio, outro avanço que facilitou a cirurgia endoscópica foi a possibilidade da neuronavegação. O computador localiza os instrumentos na tela e dá uma imagem mais global que a proporcionada pelo endoscópio.
O médico lembra que a cirurgia endoscópica “não veio para ser a solução de todos os problemas” e que não pode ser usada em todos os casos. De acordo com ele, ela é útil basicamente para a parte do cérebro que faz fronteira com as vias respiratórias, mas não é a melhor opção caso o tumor esteja em outras regiões.
Para o neurocirurgião da Santa Casa Américo Rubens Leite dos Santos, há diversas vantagens no uso dessa cirurgia, e a principal é a estética.
“Não ter que abrir o crânio evita que o paciente fique com uma cicatriz na cabeça. Já a recuperação no pós-operatório não tem uma grande diferença da cirurgia tradicional”, diz.
Ele ressalta outros pontos positivos como a menor exposição e manipulação dos tecidos cerebrais, o que reduz os riscos da cirurgia.
Colaborou a CLÁUDIA COLLUCCI, da Folha de S.Paulo
F.ON.L