Quando se trata do câncer de próstata, um dos maiores desafios dos cientistas é desenvolver técnicas que reduzam dois graves problemas causados pela radioterapia e pela cirurgia de retirada da glândula: a disfunção erétil (dificuldade de ereção) e a incontinência urinária (quando a pessoa urina sem perceber).
Um novo procedimento desenvolvido nos Estados Unidos, que utiliza um laser de CO2 (dióxido de carbono), promete ser uma alternativa para manter intacta a função sexual e urinária dos homens após a remoção da próstata.
Cirurgiões do Hospital Presbiteriano de Nova York e do Centro Médico da Universidade de Colúmbia testaram o laser de dióxido de carbono (geralmente usado para tratar câncer na cabeça e no pescoço) durante cirurgias de próstata feitas com robôs e descobriram que a retirada da próstata pode ser feita com mais precisão, preservando as áreas responsáveis pela ereção do pênis e pela função urinária.
Os médicos usaram os instrumentos robóticos para remover a próstata do paciente e, com o laser, dissecaram a região entre o órgão e os nervos que ficam em volta.
Ketan Badani, diretor de cirurgia robótica do Hospital Presbiteriano de Nova York e principal autor do estudo, disse ao R7 que o diferencial do método é a extensão do calor gerado pelo laser para dissecar os nervos. De acordo com ele, a técnica “esquenta” uma região cerca de mil vezes menor do que os lasers tradicionais, o que ajuda a proteger essas estruturas e aumentar as chances de manter a capacidade sexual do paciente.
Apesar disso, Badani afirma que ainda não existem informações sobre a manutenção da ereção com o uso da técnica. Isso porque, segundo ele, a primeira fase dos estudos analisou apenas a segurança da cirurgia. É a partir de agora, numa segunda etapa, que os pesquisadores vão verificar os resultados práticos na questão sexual.
O cientista afirma, no entanto, que a condição do paciente antes da cirurgia é o que mais influencia na recuperação do paciente.
– Se você já tem algum problema de disfunção erétil ou sofre de problemas como diabetes e colesterol alto, as chances de recuperação fatalmente serão menores.
Apesar do entusiasmo dos cientistas americanos, o médico Cassio Andreoni, chefe da disciplina de urologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que as cirurgias que envolvem laser e a robótica ainda não se provaram um sucesso na redução de danos e se tratam apenas de “marketing”.
O brasileiro afirma que já usou técnicas de laser nesse tipo de cirurgia, mas parou de usá-las por não ver muitos benefícios. De acordo com ele, testes em animais provaram que métodos que usam clipes de titânio para suturar a próstata durante a cirurgia são mais eficientes.
– O laser é apenas mais uma forma de parar o sangramento. Não significa que o método é mais preciso. O laser com certeza não vai adicionar o mesmo benefício para todos os pacientes.
Nervos estão próximos da próstata
Quando se faz a cirurgia para a retirada da próstata, ou mesmo as sessões de radioterapia, o homem pode sofrer dificuldades de ereção ou incontinência urinária.
Isso acontece, segundo o médico Marcos Dall’oglio, chefe do Departamento de Uro-oncologia da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), porque tanto o músculo responsável pela função urinária como as terminações nervosas por onde passam as informações que estimulam a ereção do pênis estão localizados numa região muito próxima à próstata. Com o tratamento, portanto, são grandes as chances de danificar essas estruturas.
– As complicações dependem da experiência do cirurgião, da idade do paciente e das características da própria doença. Às vezes existe um tumor maior ou então uma próstata com fatores anatômicos que dificultam a cirurgia. Por siso a experiência do cirurgião conta muito.
No Brasil, em 2009, foram feitas 10.410 cirurgias de retirada de próstata na rede pública de saúde, segundo o Ministério da Saúde. Com relação à iniciativa privada, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) informaram que não possuem dados exatos sobre a quantidade de procedimentos.
De acordo com Dall’oglio, a cirurgia convencional no Brasil custa em torno de R$ 15 mil, enquanto a cirurgia por robôs chega a R$ 55 mil. O urologista afirma, no entanto, que os dois procedimentos alcançam resultados equivalentes e provocam as mesmas consequências.
– A cirurgia robótica surgiu nos últimos quatro anos, então é uma técnica que ainda está se estabelecendo. Aparentemente, os resultados são equivalentes, mas não melhores do que a cirurgia convencional.
Andreoni diz que os robôs, usados em 90% das cirurgias urológicas nos Estados Unidos, podem fazer a diferença e permitir uma recuperação melhor do paciente, mas é preciso que o cirurgião responsável seja bem qualificado.
– A maior parte dos cirurgiões não tem conhecimento adequado da localização dos nervos durante uma cirurgia [de próstata].