Acusado de patrocinar uma milionária promoção para a namorada, o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, renunciou ao cargo no mês passado e reacendeu discussões sobre os limites dos relacionamentos amorosos no ambiente corporativo.
No Brasil, grandes empresas começam a adotar normas de conduta sobre o assunto. A tendência, segundo especialistas em recursos humanos, é que elas sejam cada vez menos rígidas. “Antes, proibir relacionamentos entre funcionários era comum. Hoje os modelos familiares são menos estáveis e exigem adaptação das empresas”, diz a sócia da assessoria em gestão de recursos humanos da KPMG, Patricia Molino.
A paranaense Milenia , do setor de agroquímicos, aborda o tema em um manual de convivência, entregue a todos os funcionários. De acordo com a coordenadora de RH, Luciana Siqueira, a empresa permite e apóia relacionamentos entre funcionários. “Estar perto da pessoa que gosta pode deixar o ambiente de trabalho mais agradável e isso é bom também para a companhia.” Apesar de liberal, a política da Milenia prevê restrições. A primeira é que os parceiros sejam solteiros. A segunda é que o casal não esteja subordinado à mesma chefia.
A Racco Cosméticos também criou, há cinco anos, um código de conduta que aprova o namoro no trabalho. “Apoiamos relacionamentos porque o equilíbrio na vida afetiva pode tornar o funcionário mais produtivo”, explica o gerente de marketing Anderson Portes.
Na sede da empresa, em Curitiba, há oito casais casados e vários namorados entre os 350 funcionários. O incentivo aos relacionamentos já virou até política de RH. Os funcionários têm liberdade para indicar o cônjuge para eventuais vagas. Se durante o processo de seleção o candidato ‘empatar’ com outro igualmente qualificado, terá preferência o que tiver parentesco na empresa.
Foi assim que a gerente financeira da Racco, Marisa Bastos, levou o marido, Júlio Pires Bastos, a pleitear o cargo de gerente industrial na empresa. Hoje ambos trabalham na companhia, mas o contato no ambiente de trabalho fica restrito ao horário do almoço e às pausas para o café. “Eventualmente temos reuniões gerenciais, quando nos sentamos à mesma mesa. Mas no dia-a-dia não há excesso de contato”, diz Marisa.
Exigir que os parceiros não tenham subordinação direta é regra comum nas empresas que tratam do assunto. “Nesses casos, desloca-se um dos profissionais para outro setor”, diz o consultor de RH da RCS Consultoria, Nelson Moschetti. Segundo ele, a medida evita que ocorra favorecimento entre os parceiros – ou prejuízo, em caso de rompimento.