quinta-feira, 07/11/2024
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Na Inglaterra, cientistas anunciam sucesso em experimento que mata o HIV escondido no corpo

Na hist&oacuteria da medicina, poucas doen&ccedilas foram t&atildeo estudadas quanto a Aids. Agora, trinta e cinco anos ap&oacutes o surgimento dos primeiros casos, come&ccedilam a aparecer os resultados mais animadores dos caminhos pavimentados em dire&ccedil&atildeo &agrave cura. As not&iacutecias v&ecircm de v&aacuterias partes do mundo. Recentemente, cientistas ingleses anunciaram que pelo menos um, entre 50 pacientes acompanhados em um experimento que visa a derrota do HIV, n&atildeo apresentava mais sinais do v&iacuterus dentro do organismo.

O brit&acircnico de 44 anos que n&atildeo teve o nome revelado submeteu-se a uma estrat&eacutegia chamada pelos ingleses de kick and kill, algo como chutar e matar. Consiste em tentar vencer um dos obst&aacuteculos que at&eacute agora impede a cura. Os rem&eacutedios antirretrovirais evitam a replica&ccedil&atildeo do HIV dentro do organismo, mas o fazem somente nas c&eacutelulas infectadas nas quais o v&iacuterus est&aacute ativo. No entanto, em muitas o HIV permanece em estado de lat&ecircncia, adormecido. Por essa raz&atildeo, mesmo que seja indetect&aacutevel a quantidade do v&iacuterus no sangue, ele continua no corpo, escondido. Se os rem&eacutedios s&atildeo suspensos, o v&iacuterus que dormia, acorda.

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Estamos fazendo uma das primeiras tentativas s&eacuterias em dire&ccedil&atildeo &agrave cura&nbspMark Samuels, cientista ingl&ecircs

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O esquema montado por especialistas de cinco respeitadas institui&ccedil&otildees inglesas &ampndash reunidos em um cons&oacutercio criado especialmente para achar a cura da doen&ccedila &ampndash pretende acordar o v&iacuterus adormecido (a parte do chutar) para mat&aacute-lo. Faz isso em duas etapas. Primeiro, uma vacina fortalece o sistema imunol&oacutegico do paciente para detectar e combater as c&eacutelulas infectadas. Depois, uma droga chamada vorinostat, usada no tratamento do linfoma (tipo de c&acircncer), entra em cena para ativar o HIV latente. Desta maneira, o v&iacuterus fica finalmente vulner&aacutevel ao ataque do sistema de defesa e tamb&eacutem dos antirretrovirais.

Ainda &eacute cedo para dizer se o paciente est&aacute curado. Ele terminou o tratamento, que vimos ser seguro e bem tolerado, ressaltou Sarah Fidler, professora do Imperial College London, uma das institui&ccedil&otildees participantes. Mas s&oacute em 2018, quando finalizarmos o trabalho, saberemos se chegamos &agrave cura. A prud&ecircncia &eacute compreens&iacutevel, mas os cientistas sabem que deram um passo importante. Estamos fazendo uma das primeiras tentativas s&eacuterias em rela&ccedil&atildeo &agrave cura, disse Mark Samuels, que tamb&eacutem participa do projeto.

Somos os &uacutenicos no mundo a aplicar uma forma de ataque t&atildeo abrangente contra o HIV&nbsp

Ricardo Diaz, infectologista, coordenador do estudo brasileiro

No Brasil, pesquisadores da Universidade Federal de S&atildeo Paulo executam experimento com igual ambi&ccedil&atildeo. Sob o comando do infectologista Ricardo Sobhie Diaz, trinta pacientes participam de um protocolo ainda mais amplo do que o ingl&ecircs. Duas medica&ccedil&otildees s&atildeo usadas para tornar o tratamento mais forte, uma ativa o HIV dormente nas c&eacutelulas e outra mata as c&eacutelulas nas quais o v&iacuterus est&aacute escondido. Al&eacutem disso, uma vacina, feita com o v&iacuterus extra&iacutedo do pr&oacuteprio paciente, &eacute o recurso com o qual pretende-se atingir o HIV escondido nos chamados santu&aacuterios. S&atildeo locais do corpo onde os antirretrovirais ou n&atildeo conseguem chegar ou chegam com fraca atua&ccedil&atildeo (sistema nervoso central, linfonodos, trato genital e mucosa do trato gastrointestinal). A vacina ensina o linf&oacutecito CD-8 (parte do ex&eacutercito de defesa) a encontrar e a matar o HIV presente nesses locais.

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ESPECIAL: O americano Timothy Brown &eacute a &uacutenica pessoa considerada curada

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O trabalho come&ccedilou h&aacute um ano e h&aacute grande expectativa em rela&ccedil&atildeo aos resultados. Somos os &uacutenicos no mundo a aplicar uma forma de ataque t&atildeo abrangente contra o HIV, diz Ricardo Diaz. O m&eacutedico espera ter a conclus&atildeo em meados do ano que vem.

Este g&ecircnero de experimento, como o brasileiro e ingl&ecircs, &eacute o mais adiantado na busca pela cura. As vacinas terap&ecircuticas, que fortalecem o sistema imunol&oacutegico contra o HIV, e as preventivas, que evitam a infec&ccedil&atildeo, tamb&eacutem s&atildeo alvo de estudos no mundo todo. Por&eacutem, esbarram na incr&iacutevel capacidade de muta&ccedil&atildeo do v&iacuterus, o que dificulta a confec&ccedil&atildeo de imunizantes de efic&aacutecia garantida.

Na mira da ci&ecircncia tamb&eacutem est&atildeo os indiv&iacuteduos que, mesmo infectados, n&atildeo desenvolvem a doen&ccedila. S&atildeo conhecidos como controladores de elite. Queremos saber por que o v&iacuterus n&atildeo consegue fragilizar o sistema de defesa dessas pessoas, afirma o infectologista Valdez Madruga, coordenador do Comit&ecirc Cient&iacutefico de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia. Entre as respostas, est&aacute a habilidade de produzir anticorpos mais potentes. Com base no que j&aacute se descobriu, cientistas da Universidade Rockeffeller, nos Estados Unidos, criaram um anticorpo que reduziu em at&eacute 250 vezes a concentra&ccedil&atildeo de v&iacuterus em pacientes.

H&aacute ainda o caso de pessoas que, por caracter&iacutestica gen&eacutetica, n&atildeo produzem uma mol&eacutecula (CCR5) que possibilita a entrada do HIV na c&eacutelula. Sem ela, o v&iacuterus n&atildeo tem como invadi-la. Muito se tem trabalhado neste t&oacutepico. O americano Timothy Ray Brown &eacute a &uacutenica pessoa considerada curada no mundo porque se valeu da aus&ecircncia de CCR5. Ele foi submetido a um transplante de medula &oacutessea cujo doador possu&iacutea a altera&ccedil&atildeo gen&eacutetica que n&atildeo permite a produ&ccedil&atildeo da mol&eacutecula. Ele est&aacute h&aacute nove anos sem o v&iacuterus.

Fotos: Pedro Dias/AG. Isto&Eacute

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Parmenas Alt
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