Colocar a chave na ignição e dar a partida no carro pode ser tarefa simples para muita gente. Mas para muitas pessoas não é bem assim. Ana Luísa, a personagem interpretada pela atriz Renée de Vielmond na novela “Paraíso tropical”, por exemplo, tinha sudorese, taquicardia e tremores no corpo só de pensar em dirigir. A causa do pânico? Trauma do acidente de automóvel que matou seu filho. Ela estava no volante.
No folhetim, a personagem conseguiu superar o medo. Na realidade, dramas semelhantes levam mulheres e homens a escolas especializadas que, entre outras lições, ensinam: nem todo medo é ruim.
A psicóloga Cecília Bellina, referência no assunto no Brasil, diz que somente no Rio de Janeiro cerca de 300 pessoas freqüentam mensalmente as aulas práticas e teóricas da sua clínica, que tem quatro unidades espalhadas pela cidade. Do total de alunos, apenas 15% são homens. Entre homens e mulheres, os que mais procuram ajuda estão na faixa etária entre 30 e 40 anos. Todas as unidades cariocas, juntas, recebem diariamente cerca de 50 telefonemas. É gente em busca de informações sobre o assunto.
Bellina explica que alguns medos são benéficos. É o caso do temor que nos limita como um aviso, um alerta, de um perigo iminente. O medo passa a ser ruim, segundo a psicóloga, quando atrapalha e cerceia a vida da pessoa. Se o motorista, ao entrar no carro, sente tremores, boca seca, taquicardia, vontade freqüente de urinar, suor excessivo, formigamento nas extremidades das mãos e dos pés, falta de ar e tensão muscular é hora de procurar ajuda.
“É a fobia ligada a problemas de personalidade. São pessoas perfeccionistas que têm medo de errar e serem criticadas. Também sofrem de ansiedade e insegurança por não dominarem a técnica de direção ou trauma de acidente e ainda têm medo do ambiente do trânsito. Estas são as principais causas para tanta procura”, explica Cecília, que começou a trabalhar no ramo por hobby. Atualmente ela tem 12 clínicas espalhadas pelo Brasil.
Sem dominar teorias, mas com muita prática, o diretor geral de ensino e instrutor da auto-escola Canadá, Gentil Pereira Fernandes, considera que a principal causa do medo de dirigir é a insegurança do motorista no domínio da máquina. Ele diz que, infelizmente, os alunos costumam entrar nas escolas pensando em passar na prova do Detran. O teste, argumenta, tem peso quase irrelevante no processo porque a prova só testa se o motorista decorou o livro e não se ele sabe realmente dirigir. Para quem tem receio de carro, Gentil sugere que o motorista procure uma auto-escola e faça mais aulas.
“Quem tem medo costuma ficar pronto depois de umas 40 aulas. Já tive aluno que precisou de 120, mas é raro. A prática é que fornece o domínio. Não tem como ficar inseguro ou ter medo se você sabe o que está fazendo”, acredita o instrutor, que tem 35 anos de experiência.