Como apontado pelas pesquisas de intenção de voto, o presidente da Bolívia, Evo Morales, teve uma vitória tranquila para a primeira reeleição presidencial da história do país. O grande prêmio das eleições gerais deste domingo, contudo, foi a maioria conquistada pelo seu partido, MAS (Movimento ao Socialismo) na disputa pelas vagas de senadores e deputados.
Os resultados oficiais devem sair ao longo do dia, mas as pesquisas de boca-de-urna mostram Morales com ao menos 63% dos votos, pouco menos de dez pontos percentuais a mais do que o resultado que obteve nas eleições de 2005.
Seu resultado está ainda 35 pontos percentuais a frente do segundo colocado, o direitista ex-governador Manfred Reyes Villa.
As pesquisas de boca-de-urna mostram ainda que o MAS levará ainda o controle da Câmara baixa do Congresso e uma maioria absoluta de dois terços do Senado, onde a oposição foi resistente durante seu mandato, vetando medidas esquerdistas e atrasando a votação da nova Constituição.
Com o controle do Legislativo, Morales tem agora o caminho livre para aplicar as reformas esquerdistas de maior poder aos indígenas, programas sociais assistencialistas e o controle estatal da indústria como estratégia de geração de renda e emprego. Os analistas alertam, contudo, que Morales não vai conseguir atrair investimentos sem moderar sua retórica.
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Em La Paz, centenas de seguidores do presidente tomaram as ruas aos gritos de “Evo, Evo, Evo” antes mesmo da divulgação das projeções dos meios de comunicação, que geralmente acertaram os resultados de eleições passadas.
As eleições, em que mais de 5 milhões de bolivianos escolheram também o vice-presidente e outros representantes, acontecem dentro da nova Constituição plurinacional e socialista aprovada no começo deste ano.
Morales disse neste domingo (6) que a vitória obtida nas eleições gerais o obriga a “acelerar” o “processo de mudança” que empreende há quatro anos em seu país.
“Temos a enorme responsabilidade de aprofundar, de acelerar este processo de mudança. Que obtenhamos mais de dois terços nas câmaras dos deputados e senadores me obriga a acelerar este processo de mudança”, disse Morales em discurso de uma sacada do Palácio do Governo de La Paz diante da multidão que se concentrou na região para festejar a reeleição presidencial.
Morales recebeu felicitações do presidente do Equador, Rafael Correa, “por sua histórica reeleição, a qual constitui um triunfo para a democracia boliviana e da região”, assinala um comunicado da Chancelaria equatoriana divulgado na noite deste domingo.
O primeiro presidente indígena da Bolívia, Morales nacionalizou setores importantes da economia em seu primeiro mandato, como os setores de hidrocarbonetos, energia e mineração, o que gerou uma avalanche de renda para os cofres públicos que Morales usou para reforçar programas sociais.
Os programas que beneficiaram grupos como estudantes de primária e aposentados aumentaram sua popularidade entre a maioria indígena, que comemorou quatro anos atrás a derrota dos partidos tradicionais há longo tempo no poder.
Morales se apresentou como o único candidato capaz de trazer prosperidade aos pobres, e muitos bolivianos vivendo em áreas rurais se identificam com suas origens humildes.
Ele teve sucesso em impulsionar uma constituinte no início deste ano que lhe permitiu buscar uma reeleição até então proibida, na esteira de outros líderes sul-americanos que fizeram o mesmo.
Morales promete mergulhar a mão do governo mais fundo na economia rica em gás e minérios para redistribuir a riqueza no país mais pobre da América do Sul.
A economia boliviana deve crescer cerca de 2,8% este ano, a maior taxa da América Latina, de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Os opositores de Morales mantêm a crítica de que sua política de maior controle estatal sobre a economia afugenta o muito necessário investimento estrangeiro. Suas repetidas promessas de aumentar a produção de gás natural, o principal produto de exportação do país, não se materializaram por causa da falta de investimento nesse setor.
Morales, um admirador assumido do líder cubano Fidel Castro, é um crítico feroz dos EUA, que ele chama de “império” em discursos contra o capitalismo.
F.Online