Alta nos preços dos fertilizantes, falta de crédito, taxas de juros elevadas e dificuldades para renegociação das dívidas. Com tantos problemas pela frente, os produtores rurais têm que planejar muito bem a safra agrícola 2008/09 – que começa a ser plantada a partir de outubro – para evitar grandes perdas. A recomendação vem de pesquisadores e especialistas do mercado de commodities. Eles alertam que com custo de produção 25% mais caro em relação à safra anterior, a atenção para cada etapa da atividade exige atenção de toda equipe da fazenda.
De acordo com o pesquisador Mauro Osaki, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), os fatores de produção têm de ser usados racionalmente. “O momento é de cautela. Precisamos saber o montante financeiro a ser retornado para cada unidade monetária investida. Planejar a próxima safra vai requerer do produtor muita disciplina e conhecimento”, aponta Osaki.
A principal ameaça, segundo os produtores de algodão, reside nos elevados preços dos fertilizantes, que sofreram alta – em dólar – de 140% do ano passado até agora. “Com os custos nestes patamares o plantio torna-se proibitivo”, sentencia o cotonicultor Sérgio De Marco, ex-presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), que estima queda de até 30% na área da próxima safra que começa a ser plantada no próximo mês de dezembro.
Segundo ele, o setor algodoeiro não vive um bom momento devido a um conjunto de fatores que vai desde a política cambial até os altos custos de produção. Na avaliação do pesquisador, os custos de produção podem ser controlados a partir de um caderno simples até um programa específico de gestão de custo. Ou seja, uma calculadora básica, que faça as quatro principais operações (soma, subtração, multiplicação e divisão), ajuda o produtor a realizar o cálculo do custo de produção. Ainda que um programa de gestão de custos agilize muito a operacionalização e controle dos gastos da propriedade, um cálculo bem feito, utilizando-se os recursos da aritmética básica, é suficiente para o produtor chegar aos resultados sobre custos da propriedade.
“Para se ter um bom controle de custos é preciso ter uma boa anotação dos gastos para cada atividade, tudo tem de ser anotado e detalhado, seja no caderno ou no palm top”, diz Osaki. Segundo o pesquisador, os custos de produção de soja nas lavouras mato-grossenses oscilam muito a rentabilidade do produtor.
“No ano de 2002 e 2004, o valor da saca da soja estava extremamente alto, motivando os produtores a investir na aquisição de terra, máquinas e na compra de fertilizantes. Em 2005, o mercado registrou uma inversão dos preços para baixo com a queda da cotação do contrato futuro da soja na bolsa de valores de Chicago e valorização do real frente ao dólar, provocando um achatamento na rentabilidade do produtor”.
Segundo ele, como conseqüência o custo de produção da safra 2006/07 foi a menor dos últimos oito anos. “Para a safra 2008/09, os valores nominais estão até 25% mais caros que a safra passada nas principais regiões produtoras de soja”, revela. “Por conta deste cenário, os agricultores temem que a rentabilidade da próxima safra seja ainda mais baixa em 2009”, alerta o presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprojsa), Rui Ottoni do Prado. “Realmente, o momento é de muita cautela mesmo antes de se plantar a safra”.
Rentabilidade – Os estudos apontam que os custos com fertilizantes estão impondo fortes perdas e reduzindo drasticamente a margem de lucro do setor. Para o especialista em Agronegócio e diretor executivo da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja), Marcelo Duarte Monteiro, a alta nos preços desse insumo foi tão grande do ano passado para cá que hoje os fertilizantes preocupam tanto quanto a falta de logística.
De acordo com ele, hoje o peso do item “fertilizante”, como fator de perda da competitividade, está praticamente equiparado com o da logística. “Hoje o produtor tem que despender US$ 300 a mais por hectare que o Paraná para produzir a soja. Desse total, 50% são gastos com fertilizantes e, o restante (50%), despesas atribuídas à falta de uma logística de transporte eficiente em nosso Estado”.
Marcelo Duarte lembra que Mato Grosso produz em grandes áreas, porém em solos pobres. “O solo mato-grossense é um dos mais pobres do mundo para produção agrícola em alta escala”, diz, acrescentando que o que se usa no Estado em termos de adubo é o dobro do utilizado nos Estados do Sul e o triplo do que se gasta nos EUA e Argentina, por exemplo.