Aderrubada da floresta amazônica e da vegetação de cerrado no interior do Brasil está sendo feita com mão-de-obra escrava. A constatação é do Ministério do Trabalho (MT) que, desde 1995, mantém um grupo especial formado para libertar trabalhadores em condições que podem ser comparadas às do período colonial.
Muitos fazendeiros recorrem a serviços clandestinos para avançar sobre a mata, ocupando espaço da vegetação nativa. “O desmatamento é um trabalho de curta duração e ilegal. Um crime leva ao outro no fim das contas. O fazendeiro que não possui licença tenta fazer escondido e contrata um terceiro. Este, por sua vez, arregimenta os trabalhadores em condições terríveis”, explica Marcelo Campos, coordenador da equipe de Fiscalização Móvel do Trabalho Escravo.
O Pará foi o estado em que mais escravos foram libertados em 2007. A equipe do
Ministério do Trabalho, composta por auditores, procuradores, delegados, policiais federais e representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Ibama, resgatou 1.947 pessoas. “É um dos estados onde mais acontece essa expansão em cima da mata nativa”, diz Campos.
Até hoje, o grupo do Ministério do Trabalho já libertou 27.792 pes-
soas. “Muitas vezes, os trabalhadores são tratados pior que os animais. Em algumas fazendas, eles ficam nos currais”, conta. Faltam condições de segurança e saúde e é comum que patrões emprestem dinheiro para os empregados, que ficam impedidos de ir embora até pagarem a dívida.
Os proprietários das fazendas onde são encontrados escravos são processados nas esferas civil e criminal, podendo pegar até dez anos de prisão. Após todos recursos serem julgados, eles são incluídos por dois anos em uma relação de escravizadores, perdendo benefícios como a possibilidade de empréstimos em bancos. Os trabalhadores libertados recebem assistência e entram na lista do Bolsa-família.
Por Daniel Santini/FU