quinta-feira, 07/11/2024
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Militantes juram guerra ao papa; Vaticano tenta acalmar ânimos

A declaração dos grupos liderados pelo braço da Al Qaeda no Iraque foi feita mesmo depois de o papa ter dito, no domingo, que lamentava profundamente o fato de os muçulmanos terem se ofendido com a citação de textos medievais feitas por ele numa palestra sobre o Islã e a guerra santa, na terça-feira da semana passada.

“Dizemos ao adorador da cruz (o papa) que você e o Ocidente serão derrotados, como acontece no Iraque, no Afeganistão, na Chechênia”, disse o Conselho Mujahideen Shura na Internet.

“Quebraremos a cruz e derramaremos o vinho… Deus vai ajudar os muçulmanos a conquistar Roma… Que Deus nos permita degolá-los, e fazer de seu dinheiro e de seus descendentes a recompensa dos mujahideen”, disse a declaração, publicada no domingo.

Na cidade de Basra, no sul do Iraque, cerca de 150 manifestantes entoaram gritos de guerra e queimaram uma efígie do papa. Também foram queimadas bandeiras dos Estados Unidos, da Alemanha e de Israel.

As citações usadas pelo papa na palestra de terça-feira condenavam o uso da violência para disseminar a religião. Alguns líderes religiosos chegaram a chamar o discurso de o início de uma nova cruzada cristã contra o Islã.

O Vaticano orientou seus representantes em países muçulmanos a explicar as palavras do papa. O novo secretário de Estado do papa, cardeal Tarcisio Bertone, disse que os núncios dos países muçulmanos vão fazer visitas a líderes religiosos e do governo.

A Comissão Européia disse que as declarações do papa sobre o Islã não deveriam ser retiradas de contexto. “Na visão da comissão, qualquer reação deve ser baseada no que foi realmente dito e não em declarações sendo tiradas deliberadamente de contexto”, disse Johannes Laitenberger, porta-voz do braço executivo da União Européia.

O presidente da França, Jacques Chirac, não chegou a criticar o papa, mas pediu um uso mais diplomático das palavras. “Não é meu papel nem minha intenção comentar as declarações do papa. Só quero dizer, em termos gerais, … que precisamos evitar qualquer coisa que piore as tensões entre povos ou entre religiões”, disse Chirac à rádio Europe 1.

O chefe da igreja anglicana mundial, o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, defendeu Bento 16. “O papa já pediu desculpas e acho que suas opiniões devem ser julgadas levando em conta todo o seu histórico, em que ele se manifestou de forma muito positiva sobre o diálogo”, disse Williams, que é o líder espiritual de 77 milhões de anglicanos no mundo todo.

“Há elementos no Islã que podem ser usados para justificar a violência, do mesmo modo como no cristianismo e no judaísmo”, afirmou ele à BBC.

No Irã, um porta-voz do governo disse na segunda-feira que o pedido de desculpas do papa era um “bom gesto”, mas que não era suficiente.

O papa citou na palestra as críticas ao profeta Maomé feitas pelo imperador bizantino Manuel 2o. Paleólogo, que disse que o profeta só trouxe o mal, “como sua ordem para disseminar pela espada a fé que ele pregava”.

Na Somália, uma freira italiana foi morta no domingo, num ataque que uma fonte islamita disse poder estar ligado à polêmica. O Vaticano afirmou esperar que tenha se tratado de um “fato isolado”.

O presidente da Associação Islâmica da China, Chen Guangyuan, disse que o papa “insultou tanto o Islã como o profeta Maomé. Isso abalou seriamente os muçulmanos em todo o mundo, inclusive os da China”, segundo a agência Xinhua.

Na polêmica do ano passado causada pela publicação de caricaturas do profeta Maomé por um jornal dinamarquês, a China foi reticente em se manifestar. O país asiático afirma que seus católicos pertencem a uma Igreja estatal e local que não reconhece a autoridade do papa. Os muçulmanos também estão sujeitos ao controle do Estado.

Em Jacarta, cerca de 100 muçulmanos indonésios fizeram uma manifestação pacífica de protesto diante da embaixada do Vaticano.

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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